Caleidoscópio: O cerrado em perspectiva(s) - por Petrônio Braz

Jornal O Norte
Publicado em 28/08/2008 às 10:31.Atualizado em 15/11/2021 às 07:42.

Por mais que eu viva, por mais que me esforce, por mais que filosofe, não consigo entender os humanos... (Ivo das Chagas)



A Editora Unimontes lançou, em 2003, pouco divulgada entre nós, a antologia literária “O Cerrado em Perspectiva(s)” que, na fala de suas organizadoras Luciene Rodrigues e Claudia Maia, “privilegia a geografia, cultura e sociedade do vale do rio São Francisco, em sua porção média, na terra do pulo do peixe, dos buritizais, das várzeas, vazantes, da agricultura irrigada, do eucalipto e da indústria metalúrgica e têxtil”.



A antologia foi motivada pelo artigo “Eu sou o cerrado” do professor emérito Ivo das Chagas, ecólogo de renome nacional, cidadão do mundo, mestre em Geografia pela Universidade de Bordeaux, na França.



Os autores em verdade buscam denunciar, resgatar, contestar, valorizar o grande bioma chamado cerrado.



Participam da antologia: Andréa Maria Narciso R. de Paula, Domingos Diniz. Hermando Baggio Filho, Ivo das Chagas, João Cleps Júnior, Maria Olívia Mercadante Simões, Paulo Pardal, Paulo Sérgio Nascimento Lopes, Vanessa M. Brasil e Zanoni Neves.



O cerrado, uma espécie de savana, entretecido de árvores frutíferas, mais que a mata, pela sua diversidade biológica, é propício à vida animal pela fartura de frutos que produz e pelas pastagens de gramíneas, que cobrem o solo durante todo o ano, revigoradas pela luz do Sol, que penetra fácil por entre a esparsa vegetação arbórea.



No cerrado vegeta o pequizeiro, de fruto oleoso e aromático do qual o sertanejo extrai suculento óleo ou fabrica saboroso licor, além de se alimentar de sua polpa macia e avermelhada.



Na estação das chuvas, de outubro a março, uma variedade muito grande de frutos silvestres superabunda, por toda parte, para deleite de uma variedade muito grande de aves, especialmente as araras, os papagaios, as jandaias, os periquitos e as maracanãs.



Além do pequi, tem o araçá, a cagaita, o borlé, o grão-de-galo, a mangaba, a cabeça-de-negro, o caju-do-campo, o baru, o saputá e outros frutos.



Nas veredas preguiçosas, de margens abeberadas em águas límpidas, medram altaneiros os buritis, a palmeira-do-brejo. De seus frutos o sertanejo fabrica delicioso doce.



É esse bioma que vem defendido pelos autores, que integram a antologia, cuja vegetação específica tem sido destruída para produção de carvão vegetal, plantio de eucalipto ou de pínus, provocando o definhamento gradativo de sua variada fauna.



Os resultados da ação do homem, o maior e mais perigoso de todos os animais predadores, como observa Hermando Baggio Filho, tem provocado “impactos no meio físico; alterações da paisagem – recursos hídricos, solos, etc.” Com modificações no “ambiente biológico: biodiversidade – fauna e flora da região” e também “no meio ambiente socioeconômico.”



Atentam Maria Olívia e Paulo Sérgio a questão socioeconômica ao informarem que “a expulsão do sertanejo extrativista de seu local de origem, semelhante ao que ocorre aos pequenos produtores rurais de todo o país, tem originado problemas econômicos e sociais de extrema gravidade nas áreas urbanas, para onde migram em busca de trabalho.”



Cumpre, ainda, ser observado que também os animais silvestres estão buscando os centros urbanos. Em todos os bairros de Montes Claros são encontradas numerosas famílias de micos, belos macacos de pequeno porte, que nos deleitam pelas árvores dos quintais e atormentam o nosso espírito pela visão antecipada de sua extinção.

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