Marcelo Valmor (*)
A Caixa Econômica Federal está veiculando na televisão, em horário nobre, propaganda na qual oferece empréstimos para aqueles que estão querendo curtir o carnaval. É isso mesmo! Empréstimo para divertir. Pensando bem, até aí nada demais.
Mas o problema é que, assim como o carnaval, o empréstimo trás, latente, uma puta de uma dor de cabeça que só será resolvida a partir de intensa terapêutica química sob a forma de analgésicos mensais a juros impraticáveis em qualquer parte do mundo.
Mas a grande novidade dessa nova modalidade de empréstimo, reforçada com a imagem da atriz e apresentadora Regina Casé, é que a intenção é pescar o sujeito para o carnaval com um anzol do tamanho dos impostos de início de ano. O IPTU, o IPVA, entre outros, estão sendo chamados para serem quitados com empréstimos oferecidos por aquela instituição, deixando as economias acumuladas no final do ano passado para os festejos de Momo.
Tudo bem que banqueiro pensa mais com os bolsos, mas quando falamos na CEF, estamos falando de um banco público, que tem a função de estimular o desenvolvimento social ao oferecer financiamentos de imóveis e aplicações no mercado financeiro nas quais se destaca a poupança. Ao mesmo tempo em que falamos em um banco estatal, estamos a falar, todos nós, de um governo que tem como missão fundamental a eliminação da pobreza. Mas parece que a CEF pensa o contrário. Endividar o sujeito para que ele pague impostos é o cúmulo da picada.
Por outro lado, a propaganda do banco azul e branco denuncia a relação do estado brasileiro com seu povo. Afinal, quem paga, de fato, impostos neste país? Os ricos quase sempre escapam deles, os pobres não pagam por uma questão óbvia: são pobres! A classe média é quem arca com o custo maior do negócio. Por outro lado, parece que a carga tributária de início de ano não dá ao sujeito a possibilidade de aproveitar a primeira grande festa do ano que é o carnaval.
Mas como teria que escolher a princípio entre a obrigação e a diversão, - drama que povoa a cabeça dos nossos adolescentes -, achou a CEF a mágica solução. É só se endividar e pagar seus impostos, e, com o dinheiro poupado, partir para a esbórnia. A CEF dá um péssimo exemplo ao inverter a lógica da educação que damos para os nossos filhos, ou seja, primeiro a obrigação, depois a diversão.
Se o governo Dilma (PT) tiver um mínimo de responsabilidade, mandará retirar do ar essa propaganda e pedir desculpas ao povo brasileiro. Caso não faça isso, estará manchando, sem antes levar à água, uma roupa que pretendíamos usar durante quatro anos.
(*) Articulista político e professor universitário