Caixão não tem gaveta

Eduardo Costa

Jornal O Norte
Publicado em 01/02/2014 às 01:54.Atualizado em 15/11/2021 às 16:44.

*Eduardo Costa

Em mais uma demonstração de que é um líder religioso diferenciado, o Papa Francisco pediu aos líderes das nações ricas a garantia de “que a humanidade seja servida pela riqueza, e não governada por ela”. Sua Santidade sabe o que diz. Afinal, o planeta ainda repercute o relatório de uma organização não governamental britânica, “Oxfam”, de que o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população. Aquelas têm 1,7 trilhões de dólares, equivalentes ao patrimônio de 3,5 bilhões de pessoas – as mais pobres do mundo.

Eu me pergunto, com frequência, por que a gente insiste em viver como formigas, juntando, juntando, mesmo sabendo que, quanto mais compacto e cheio o formigueiro estiver, mais ao alcance dos predadores estará. Não acredito que seja pecado ter dinheiro e o próprio Jesus Cristo deixou clara a aprovação aos bens conseguidos licitamente, por meio do trabalho, tanto que nos deu os talentos na expectativa de que os utilizássemos bem.

O problema é o vale tudo. Agora mesmo um padre foi preso dentro do Vaticano porque estava multiplicando irregularmente as próprias economias. E todo dia, toda hora a gente vê exemplos inacreditáveis de artimanhas para se colocar as mãos na fortuna. É o servidor público corrupto, o político desalmado que enfia a mão no caixa que é de todos, mas, convenhamos, os grandes ganhos da iniciativa privada muitas vezes também passam por trapaças, negociatas e até rasteiras nos concorrentes.

O resultado é que o patrimônio do 1% de pessoas mais ricas do mundo equivale a um total de US$ 110 trilhões, 65 vezes a riqueza total da metade mais pobre da população mundial. E, pior, os mesmos estudos indicam que, nos últimos 25 anos, a riqueza ficou cada vez mais concentrada nas mãos de poucos...

Felizmente, a situação tende a se tornar menos trágica entre nós, na América Latina, onde a concentração de renda tem diminuído e, para desespero dos tucanos e de todos os que odeiam a dupla Lula-Dilma, a Oxfam destaca o caso brasileiro, apontando que o país teve “sucesso significativo na redução da desigualdade desde o início do novo século”. “Em parte devido ao crescente gasto público social, uma ênfase no gasto com saúde pública e educação, um programa de transferência de renda de larga escala que impõe condições para o recebimento (Bolsa Família) e um aumento no salário mínimo que subiu mais de 50% em termos reais desde 2003”, afirmou o relatório.

Me pego perguntando, com frequência até irritante, por que as pessoas não percebem que, depois de certa quantia, tudo o que vier é exagero, vai gerar mais problema que solução, mais tristeza que alegria, vai desagregar mais que unir e pode se tornar doença grave, na necessidade eterna de acumular mais. Um dia chega a hora, tudo vai ficar para trás, as coroas de flores só vão enfeitar o túmulo por 24 horas e, se alguma joia rara ficar no corpo, provavelmente será saqueada dias depois.

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