Antônio Augusto Souto *
Conhecemos Orlando e Alice na praia, quando ele e eu fomos jurados em concurso de caipirinha promovido pelo hotel entre seus hóspedes. Ficamos amigos e a amizade dura até hoje, apesar de morarmos em cidades diferentes: eles são da capital; nós, deste grande sertão de algumas veredas.
O hotel forneceu tudo o que era necessário para se formular caipirinha de boa qualidade. Quinze pessoas, se não me falha a memória, homens e mulheres, inscreveram-se no evento, apesar de a premiação prometida aos vencedores não ser lá grande coisa. Os jurados éramos cinco e, antes do início da competição, convencemos os promotores a trocar o clássico canudinho e a jarra tradicional por doses individuais, com tudo a que uma dose individual tem direito.
Degustamos as quinze formulações e, por decisão unânime do júri, pediu-se a repetição das de número seis, nove, onze e treze, que terminaram empatadas, em lugar não revelado.
No final, já nos limites de Bagdá, apontamos a vencedora e fomos comemorar, com mais caipirinha, a vitória, o empate, as derrotas, a eleição do novo papa... até que as garrafas do hotel ficassem irremediavelmente vazias.
Dia desses, tarde da noite, Orlando, que é torcedor do meu time, telefonou: estava em casa, comemorando com amigos o aniversário de Alice (havíamos sido convidados, com antecedência – não pudemos ir). Um dos convidados presentes era Fulano, presidente dos adversários. Disse que ia passar-lhe o telefone, para que eu lhe contasse algumas das anedotas que sei, denegrindo a imagem e a boa fama do clube dele. Neguei-me a fazer isso, mas o amigo da onça fez o que prometera. Cumprimentei o ilustre cidadão e repeti a negativa. Ele, então, com a voz meio enrolada, como se já estivesse na própria Bagdá, contou-me três ou quatro anedotas contra o meu time. Ri, como prescreve a boa educação, embora não visse graça nenhuma no que acabara de ouvir. Elogiei, merecidamente, a administração e o time dele. Achei-o uma pessoa elegante e educada.
Quando a conversa se encerrou, prometi a mim mesmo que nunca mais inventaria e divulgaria anedotas futebolísticas.
* Advogado, professor e escritor
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