Acordei de madrugada com um estrondo. Uma seqüência de trovões acompanhada de relâmpagos interrompeu meu sono. Antigamente, o adulto dizia à criança que trovoada era sinal de que Papai do Céu estava zangado por ela ter sido desobediente. Quando estava bem comportada, dizia-se: “Deus está fazendo uma faxina no céu, arrastando os móveis”. Acreditávamos.
Há tempo deixei de ser criança, mas confesso que um pensamento infantil veio de sobressalto. Talvez um crime tenha acontecido e o céu “estremeceu” de dor. Deus está decepcionado com os homens. E lamentei por tantas mortes provocadas pela violência. Se tento dormir o sono dos justos, por que não acordaria com um pensamento pueril?
De volta ao mundo dos adultos, levantei e bebi água. Tirei o cabo do telefone da torre do computador pra não danificar o modem. Voltei a deitar. Lá fora chovia e já ouvia pingos na laje. Adormeci novamente, desta vez embalada pela tempestade. Não sei o que os pais dizem para as crianças hoje em dia sobre estas manifestações na natureza. Não sei o que direi se me perguntarem... Melhor dizer a verdade.
Trovão é o estrondo causado por descarga de eletricidade atmosférica. Difícil para um adulto entender, quiçá para uma criança! No início escolar os professores poderiam explicar isso de forma bem simples e clara aos pequeninos. Quando chegar a vez das crianças de outrora darem explicações para seus filhos, sobrinhos e netos, elas saberiam como responder sem criar medos e traumas; fantasias.
Como labuto com as letras, gostei que o trovão tivesse me acordado; gostei de um dia ter ouvido absurdas explicações sobre trovoadas. Só não gosto de a violência estar fora de controle. Se broncas em forma de trovão fossem a saída, desejaria uma tempestade todos os dias. Mas não é simples assim.
(*) Jornalista e advogada, com experiência em rádio, jornal, televisão, assessoria de imprensa e webjornalismo. Exercita o jornalismo em fotografias e crônicas semanais, com as quais tenta sensibilizar espectadores e leitores.