Dirceu Cardoso Gonçalves
Dirigente da Aspomil
O Brasil, que é a oitava – talvez a sétima – maior economia do mundo, é vergonhosamente colocado em 88º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação, apurado pela Unesco. O simples confronto dessas duas realidades demonstra o quão omissos foram os governos e a própria sociedade das últimas décadas, e o grande trabalho que há de se realizar para fazer o Brasil da economia potente encontrar-se com o Brasil do atraso social. Há um enorme fosso entre a nação da tecnologia e do alinhamento ao primeiro mundo e a população, que sofre a exclusão e nem tem meios para lutar por dias melhores.
Além das nações reconhecidamente desenvolvidas, aparecem na lista em melhores condições que o Brasil, países como a Argentina, Bolívia, Belize, Cuba, Chile, Colômbia, Equador, Honduras, Paraguai, Venezuela e outros de economia muito inferiores à brasileira. Segundo o relatório, o índice brasileiro de repetência no ensino fundamental é de 18,7% enquanto o mundial é de 2,9%. Mais de 13% dos alunos deixam os estudos no primeiro ano, quando a média mundial é de pouco mais de 2%.
Os índices apurados pela Unesco, devem servir de alerta a todos que têm algum tipo de responsabilidade social. Principalmente para governantes e autoridades da área educacional. Não é segredo a ninguém que o ensino brasileiro faliu a partir do momento em que priorizou a produção de quantidade em vez de qualidade. Os parâmetros de avaliação foram afrouxados e milhares de escolas proliferaram sem qualquer condição de funcionarem como tal. O resultado é a grave crise de formação que hoje separa o povo do país desenvolvido.
Quem teve a oportunidade de conhecer a escola de antigamente é testemunha do prestígio e da competência dos professores de então e, consequentemente, do resultado de seu trabalho. O aluno era submetido a um regime severo de aprendizado e avaliação e só chegava ao final do curso aquele que realmente tivesse aprendido as lições. Mas, infelizmente, o processo de modernização não preservou a qualidade e acabou por jogar o professor na vala comum dos profissionais mal remunerados e de pouco reconhecimento que, para conseguir viver da profissão, tem de fazer jornada dupla e até tripla e, como conseqüência, não tem tempo para viver a própria vida e muito menos se reciclar. Isso sem falar das instalações inadequadas que os sucessivos governos chama de escola.
Houve uma época em que autoridades sonhadoras – algumas delas que viveram o doce exílio na França – insistiram em aplicar no Brasil os métodos franceses de educação, esquecendo-se de que vivemos no Brasil, em condições brasileiras. Ao trazerem as modernidades, destruíram aquilo que tínhamos e o resultado aí está.
Hoje temos um país desenvolvido, que não sabe como preparar o próprio povo para viver a modernidade. Algo de urgente tem de ser feito para resgatar o professor e a escola e, através deles, criar oportunidades para o povo. Sem isso, não iremos a lugar algum...