Botando a mão na massa - por Fernando Abreu

Jornal O Norte
Publicado em 15/03/2007 às 09:36.Atualizado em 15/11/2021 às 08:00.

Fernando Abreu *



Já virou lugar comum falar da BR135. Mas não canso de tocar na ferida. Triste estigma este que carregamos! A situação é de descaso, abandono total.



A imprensa e algumas poucas forças políticas que defendem os interesses desse povo sofrido, conseguiram colocar o tema em questão no ano que passou. A situação da BR135 foi o assunto mais comentado dos últimos tempos por estas bandas.



Promessas já foram muitas. Até representante de ministro veio aqui recentemente, anunciar que o asfalto estava chegando. O povo se alegrou. Acreditou e começou a sonhar com o progresso. Com a tão sonhada evolução. Mas nada aconteceu.



A briga de empurra entre os governos estadual e federal finalmente teve um fim. A responsabilidade acabou ficando mesmo para a União. O estado, que vive de publicidade, ficou isento do fardo. Para o neto de Tancredo, o Norte do estado simplesmente não existe. Pergunte pra ele. É capaz dele querer saber do que você está falando. Somos mesmo uma cambada de persistentes, lutadores e atrevidos. Viver por aqui está se tornando quase que uma situação inóspita.



Ficamos sabendo outro dia que o DNIT realizaria uma licitação para contratar serviços de manutenção (conservação e recuperação) desta rodovia. Conforme Edital nº 485/2006-00. O lote 2, compreendendo o segmento de km 22,6 (Montalvânia) ao km 137,4 (Itacarambi), seria beneficiado. Publicação efetuada no Diário Oficial da União em 03/11/2006. Ninguém se manifestou. Nada mais faz o povo acreditar que o trecho será recuperado.



Por telefone, a assessoria de comunicação do DNIT - Brasília DF - informou que houve realmente a licitação e que a empresa vencedora havia sido a Conserva Estradas. Que a assinatura do contrato entre o DNIT e a empresa iria acontecer ainda naquela semana e as obras de recuperação e conservação começariam em cinco dias. Mais de trinta dias se passaram. No DNIT ninguém sabe de quem é a responsabilidade. Não se fala mais no assunto. Os deputados eleitos pela região não são encontrados para falar. Todo mundo sumiu. E nós como ficamos?



Só quem conhece é que sabe dizer. São quase 100 mil pessoas que dependem deste trecho. O povo já não acredita mais em nada. Há mais de trinta anos não é feita uma manutenção no trecho, conforme motoristas e antigos moradores da cidade.



O vice-presidente da República, José Alencar, garantiu que a BR135 está incluída no PAC - Plano de Aceleração do Crescimento. De acordo com o vice-presidente, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, garantiu que a revitalização completa da parte Sudeste, entre os municípios de Curvelo e Montalvânia, também está incluída no PAC, que já contempla a porção nordeste da rodovia, do Sul da Bahia até São Luís do Maranhão. O vice-presidente informou ainda que o presidente Lula também garantiu que a BR135 será tratada com absoluta prioridade.



Mas enquanto o PAC não desempaca, a situação da estrada no trecho Manga-Montalvânia fica cada dia pior. Depois das fortes chuvas que caíram na região nos últimos dias a situação se agravou. Da lama ao caos como dizia Chico Scienze, assim está a nossa estrada. A população revoltada até fez um protesto criativo e bem humorado contra o DNIT. Na entrada da cidade onde existe uma placa com os dizeres: BR –135. sob responsabilidade do DNIT.



Além da falta de manutenção e péssimas condições do trecho, a população se vê refém de bandidos. Freqüentes assaltos a mão armada acontecem, geralmente na chegada à Manga. Como Montalvânia não possui agência do Banco do Brasil, existem pessoas que vão à Manga todos os dias realizar serviços bancários para terceiros. Inclusive malotes de empresas como prefeituras, e a serviço dos CORREIOS, já que o carro da empresa não esta fazendo o percurso. Pela péssima condição da estrada, até linhas de ônibus foram extintas.



Há anos estes assaltos vêm acontecendo sem que nenhuma providência seja tomada. O povo vive em situação de medo e apreensão. Muita gente fica sem saber o que fazer. A quem reclamar. Enviam dinheiro para depósitos, pagamentos de boletas e impostos. E tudo é roubado, quase sempre. A população enfrenta uma situação difícil de resolver e exige providências urgentes. Comerciantes e motoristas dizem não poder mais continuar no prejuízo e que algo precisa ser feito com urgência. Mas ninguém dá uma posição. A cidade não tem juiz, delegado nem promotor. A Polícia Militar diz que não tem o que fazer. Os deputados sumiram. O PAC nunca chega. O DNIT nada responde. Não há mais a quem reclamar, a quem pedir socorro. Só nos resta tomar medidas próprias. Realizar os serviços que seriam do governo federal.



E foi o que aconteceu. Uma comissão formada por empresários, comerciantes, motoristas e representantes da população, resolveu por a mão na massa. Literalmente. Foi formada na cidade uma comissão chamada de Pró-estrada II. Em reunião, dia 13 de março, na Câmara Municipal, foi exposta a decisão de interferir no trecho. A população, que também irá colaborar, recebeu a notícia com euforia e bastante confiança. Proprietários de máquinas as colocaram a disposição do movimento. Muitos doaram combustível, mão de obra e dinheiro. A Prefeitura Municipal ficou com a responsabilidade do trecho Montalvânia - Grota do Espinho (5 km) - Divisa com o município de Juvenília. O movimento fará uma grande e rápida operação tapa-buracos deste trecho até o distrito de Monte Rei (13 km). Em um só dia, foi arrecadado cerca de 5 mil reais. As máquinas já estão no trecho e dentro de alguns dias a estrada, pelo menos nos pontos mais críticos, vai estar em melhores condições de tráfego, garante a comissão.



Apesar de pagar todos os impostos como IPVA e CIDE, as pessoas não reclamam em ajudar. Já que o Governo Federal, responsável pelo serviço, não dá uma posição concreta. Até passageiros de ônibus colaboraram. Uma grande movimentação está se formando na cidade. Ao contrário dos outros movimentos, este não será de protesto, mas sim de necessidade, como dizem os idealizadores. A comunidade não agüenta mais esperar e, não adianta chamar a atenção da mídia e dos políticos, que nem aqui vêm, pela dificuldade de acesso. A melhor forma foi a população mesmo resolver o problema, ou pelo menos amenizar.



O aniversário da cidade está chegando, dia 22 de abril, e alguns deputados devem aparecer por aqui. Está na hora de mostrar nossa indignação. Deixar de recebê-los com pompa para tratá-los com indignação. Merecemos atenção e respeito.



Agora, além de todos os impostos, somos obrigados a pagar do próprio bolso por um serviço de competência do Governo Federal. Um absurdo! É revoltante!



Mas com isso mostramos que não estamos a mercê desses sem compromisso e, não será uma estrada sem manutenção há mais de trinta anos que vai nos  impedir de desenvolver, de crescer, de conhecer o progresso!  É claro que o asfalto é fundamental para o crescimento, mas não podemos ficar de braços cruzados esperando este dia chegar.



Faremos a nossa parte, até por desencargo de consciência, já que a classe mandatária e responsável pela benfeitoria não o tem. Enquanto o emPACado plano do presidente Lula não sai, a solução é entrar para o movimento e ajudar a recuperar a estrada. Doe trabalho, serviço de máquinas, combustível e dinheiro. Todos serão beneficiados. Se o governo federal resolver investir na obra, o dinheiro será devolvido proporcionalmente. Mas, você ainda acredita que isso irá acontecer? Prefiro acreditar na força da união dos cochaninos. Colabore você também! Não vamos esperar pela boa vontade de políticos sem compromisso e sem palavra. Ainda bem que existem pessoas corajosas e de iniciativa nesta terra de filosofias mil! Vamos botar a mão na massa!



* Jornalista

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