Silas Corrêa Leite *
Tony Belloto deve ser mesmo uma excelente pessoa, também bom compositor e ótimo guitarrista, além de ter a posse feliz da musa televisiva de todos nós, a maravilhosa Malu Mader, sempre fina e impecável. E isso não é pouco.
Chico Buarque, aliás, um dos maiores artistas de MPB, aquele cara que, em tese “todo homem brasileiro gostaria de ser”, como escritor é apenas mais ou menos, para alguns críticos ferozes e acadêmicos de plantão simplesmente uma mera piada fora de contexto, apesar de muito midiático, claro, o que é facilmente explicável. Pois Tony Belloto é mais ou menos por aí. Como escritor quase que chega a ser um fiasco, talvez diria, fraco. Mas, paradoxalmente, e, para não dizer que não falei de flores, a Companhia das Letras investiu/investe muito nele, que assim embalado tenta o frigir dos ovos em seara alheia.
Avaliando o “Bellini e o Demônio” do Tony Belloto, vi/li somente um livrinho fácil de ler sem marcar presença a água rápida e rasa da leitura, digestivo até - “literatura”(...) infanto-juvenil? - como um pseudo-romance policial bem água-com-açúcar, para dizer o mínimo, desde o detetive janota e boçal que só pensa em sexo - e cita letras de blues em inglês, claro (sem tradução para o enfocado público leitor-alvo por assim dizer) - e que, sem nenhuma grande intuição peculiar, sem nenhuma grande margem de risco do estilo; circunstancial tramóia, modus operandi e sem muitos problemas da área investigativa(...) (e sem mesmo peculiaridades inerentes ao tema em si), vai e vem boi-com-abóbora atrás de um tal manuscrito de livro de um escritor ultrapassado e ruim, você sempre espera algo mais, um trunfo, uma carta na manga, uma reviravolta, tudo muito na obviedade sacada logo, logo depois, simplesmente quase no miolo do pacote enlivrado pra consumo muda de história simplesmente sem que uma tenha alguma coisa a ver com a outra, nada vezes nada, não por acaso uma outra também investigação chulé em meandro pequeno-burguês, passa em branco de um enfoque chinfrim pra outro até fraquinho, depois, ocasionalmente narrando bem que seja uma ou outra parada ou pegação, parágrafo ou gracejamentos de percurso, cita lugares, bairros, ruas, inventa aqui e ali, mas lamentavelmente não sai disso e é muito pouco, liga o fraco ao bobo e ruim, e fica nessa a intenção da prosopopéia só pretendida; do pseudo-romance policial de araque.
Duro ainda é o leitor que gosta de se aventurar com conversa fiada no nesse sentido em função de tanta expectativa frustrada - o nome do autor, o nome do romance - no mau sentido, ir até o fim nesse livro de bolso que dá chute na sombra, e ainda, curioso e não acreditando no inverossímil, pasmem, procurando o tal do “demônio” da temática pregada no titulo chamativo, por isso mesmo capenga, falso, quase mentiroso-de-ocasião enquanto mercadoria-livro que mais lança um nome midiático do que mesmo uma obra que talvez jamais passaria numa avaliação editorial se fosse de um desses pobres coitados, neomalditos escritores de talento (mas e ainda assim paradoxalmente anônimos) para não serem vendáveis por causo disso mesmo, serem premiados, terem currículo mas não serem pops no termo mais chulo do que a situação em si representa como acho que é exatamente o caso. Ninguém merece.
Casos intrigantes como diz a última capa chamariz. Cadê? O grande mestre do romance policial, conquistas, fracassos, tudo bobagem miúda, rasa, rala. Tráfico de drogas? Não especificado com riqueza de detalhes, meandros. Não identificado curso. Vamos circulando. Sexo? Quase só a mera falácia de. Freud inexplica. Assassinatos? Um achado no fim. Não perca tempo.
Tony Belloto é extremamente simpático - é amigo de alguém lá da editora? - mas apesar de circular livre na área com algum açodamento sem base, por certo, não acrescenta nada em termos literários ou de conteúdo e qualidade pertinentes, mormente enquanto a pretensão algo séria de ser escritor que não sabe ser inteiro e por completo, como deveria de ser, por estrutura e quilate, estando no embalo de mera aventurança. Uma pena.
A Companhia das Letras, aliás, segundo lenda que corre pelaí desde a web a bastidores de arte lítero-cultural (e deu na Folha Ilustrada), teria recusado um certo romance clássico de Machado de Assis que lhe foi apresentado com outro título e com nome autor de autor anônimo, assim, tenham dó, apostar em Tonny Belloto é forçar a barra, é uma piada de mau gosto, sendo apenas mais uma bobinha mercadoria-livro no espaço mídia que vende quem é do meio, sem tanto merecimento ou crédito assim.
Como editores dinheiristas tentaram emplacar, como outros janotas escritores de ocasião, tipo Ratinho, Derico, Hosmany Ramos, Simony lançam obras, no termo bem chulo mesmo ad expressão?. Já pensou?
Sim, amigos, Tony Belloto é um pouquinho melhor, claro, inclusive em questão de vivência ética, instrumentista, por assim dizer. Merece respeito como músico, pessoa-artista até.
Mas não se fazer escritor no folguedo do momento midiático puro e simples, fazendo o leitor perder precioso tempo com historietas que mal-e-mal fazem uma falsa diversão-entretenimento, e que, para piorar, carregam costurações narrativas que vão cerzindo a seco o fraco e o vazio, pois de romance policial mesmo o livro nada tem.
Aliás, Isto sim, é um caso de policia. E só. Escrevendo o Titã é pífio.
* Crítico literário