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Sábado,20 de Dezembro

BASTA DE DESCASO COM O SER HUMANO

A morte de um homem no último domingo (10), depois de agonizar dentro de uma ambulância na porta da Santa Casa por quase cinco horas, expõe uma ferida trágica e que precisa ser tratada com urgência e sem demagogia

Jornal O Norte
Publicado em 12/11/2013 às 08:46.Atualizado em 15/11/2021 às 17:14.

A morte de um homem no último domingo (10), depois de agonizar dentro de uma ambulância na porta da Santa Casa por quase cinco horas, expõe uma ferida trágica e que precisa ser tratada com urgência e sem demagogia.

Historicamente a situação nunca foi boa para quem é atendido pela porta dos fundos daquela casa de saúde, no Pronto Socorro apelidado de Vietnã por razões óbvias.

Também historicamente, há uma série de obrigações decorrentes de convênios e acordos com os hospitais da cidade, que atendem pelo SUS e que são reiteradamente desrespeitadas.

A pressa na solução desta questão reside no fato de que os principais prejudicados são pessoas, seres humanos fragilizados por questões de saúde de toda ordem, e que não merecem e não podem ser expostos à morte, num doloroso e degradante processo que mistura má vontade de quem deveria atender bem com descaso com a vida.

Má vontade sim, pois quando um funcionário laconicamente diz que “não há médico de plantão, e não posso fazer nada” está demonstrando exatamente isso. Se fosse com um parente ou uma pessoa próxima a atitude seria a de “dar um jeitinho”.  E o que dizer de médicos que ao se formarem juram proteger a vida em toda e qualquer situação?

Mas o atendimento hospitalar em Montes Claros não precisa nem de mais má vontade e muito menos de ajeitos.

Precisa de seriedade no cumprimento dos acordos e de maior responsabilidade.

A morte do sr. Waldir Oliveira, que de Engenheiro Dolabela foi levados às pressas para Bocaiúva, e de lá encaminhado numa ambulância para a Santa Casa de Montes Claros ilustra muito bem o que vem ocorrendo.

Por capilaridade os casos mais graves vão sendo triados e encaminhados para Montes Claros, onde se atendem os casos de alta complexidade.

Para que este atendimento seja adequado,  os hospitais se comprometem a uma série de obrigações, entre elas a de manter diariamente, inclusive aos finais de semana,  profissionais médicos em plantões  presenciais.

Sete especialidades, clínica médica, cardiologia, pediatria, anestesista, cirurgia, neurologia e ginecologia obstetra, obrigatoriamente devem dispor de médico plantonista, inclusive aos finais de semana.

No sábado não havia nem o clínico e nem o neurologista de plantão na Santa Casa.

O sr. Waldir Oliveira veio para a Santa Casa encaminhado pela Central de Leitos, que é estadual. O sistema mostrou que havia leito disponível na Santa Casa e encaminhou o paciente. Aqui ele  não foi acolhido com a alegação de que não havia um clínico de plantão. Esperando das 15 horas até às 19 horas só foi atendido após interferência de representante da Secretaria Municipal de Saúde, da Prefeitura de Montes Claros. No domingo, debilitado, após três paradas cardíacas faleceu.

A Central de Leitos também falhou por não acompanhar todo o processo - o sistema goza da chamada Autoridade Sanitária que confere o poder à Central de Leitos de intervir e, se preciso, fazer internar o paciente mesmo que em apartamento particular.

Essa situação em que pessoas são tratadas pior do que animais, deve ser repudiada veementemente por toda a sociedade. Basta!  Que o povo, que paga através de impostos os salários desses médicos e de todos os funcionários dos hospitais sejam tratados com a dignidade que merecem. Que famílias não tenham seus entes queridos arrancados do seu convívio por mera negligência de quem deveria proteger a vida. Que o ser humano seja o meio e fim em todos os hospitais de Montes Claros.

PS: O episódio, trágico, deixa uma lição de grandeza. Apesar da dor e da insatisfação a família do sr. Waldir Oliveira autorizou a doação de suas córneas.

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