Barriga e notícia - por Haroldo Lívio

Jornal O Norte
Publicado em 08/08/2007 às 10:26.Atualizado em 15/11/2021 às 08:12.

Haroldo Lívio



Na noite de 25 de julho passado, voltando de reunião do Instituto Histórico e Geográfico, ouvimos, eu e outros acadêmicos, uma notícia que nos deixou acabrunhados. Uma pessoa bem conceituada, de cuja palavra não se pode duvidar, e muito conhecida na mídia, por já ter publicado diversos livros, comentou o fechamento da estação ferroviária local. Evidentemente que a má notícia foi recebida com indizível pesar por todos  que a ouviram. Quanto a mim, lembro-me que pedi pormenores do desagradável fato, tendo ouvido em resposta que dezoito funcionários tinham sido despedidos, e o prédio histórico da Ferrovia Centro Atlântica, sucessora da extinta Rede Ferroviária Federal, que sucedeu à Estrada de Ferro Central do Brasil,  de glorioso passado, estava fechado. Estava vazio e trancado a cadeado.



Considerando a idoneidade da fonte, cuide logo em seguida de transmitir a informação ao jornal eletrônico montesclaros.com. Instantaneamente, a internet informou o globo inteiro do infausto acontecimento, que soa como dobre de sinos. Ontem, 2 de agosto, mês aziago, tomei conhecimento de que a ocorrência por mim veiculada e comentada não passou de um rebate falso, de um boato. Imediatamente, a assessoria de comunicação da ferrovia desmentiu a ocorrência, em nota publicada no mesmo local da notícia. Que vexame! Isto é o que se chama de ‘barriga”, na gíria jornalística.



Evidentemente, fiquei muito constrangido, pois fui apanhado de surpresa. Fiquei mal na foto, como diz a garotada. Entretanto, agi de boa-fé, sou inocente, fui apenas um elo na corrente epidêmica do boato, da mesma forma que meu informante, por quem boto a mão no fogo. Vai ver, alguém ouviu falar na dispensa dos dezoito ferroviários, que está confirmada pela empresa, e deduziu, apressadamente, que a estação já estaria com as portas lacradas. E botou a boca no mundo. Dizem que quem conta um conto aumenta um ponto. Daí, de boca em boca, uma notícia falsa ganhou roupagem de fato real.



De minha parte, acho que tanto eu como meu informante fomos vítimas de uma mentira que, felizmente para todos nós, acabou desmascarada. Teria sido bom se, há onze anos, em 1996, a notícia da desativação do trem de passageiros também tivesse sido desmentida. Lamentavelmente, os governos condenaram à morte as estradas de ferro mandadas construir por dom Pedro II para ao transporte de passageiros e cargas. Agora é somente cargas, exceto em poucos trechos turísticos, como de Ouro Preto a Mariana e de São João Del Rei a Tiradentes. Se caí na rede dos boateiros, inadvertidamente, posso me redimir oferecendo aos leitores do mundo inteiro notícia alvissareira, que seria de primeira mão para os leitores da cidade se já não tivesse sido ventilada por Benedito Said, em sua prestigiada coluna de 4 de agosto. Aquele trecho de terra, na rodovia bocaiúva-diamantina, que tanto nos incomodava, já está pavimentado, há mais de trinta dias. Notícia boa demora a ser publicada. Soube da conclusão da obra de asfaltamento pela simpática diamantinense Amarílis Guedes, que mora em Montes Claros e morre de saudade do seu adorado Arraial do Tejuco (como pode o peixe vivo viver fora da água fria!).



Tenho absoluta certeza de que o Departamento de Estradas de rodagem não vai desmentir a boa nova. Certifico que o referido é verdade, devidamente selado e sacramentado.

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