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Avanços

Jornal O Norte
Publicado em 18/09/2009 às 08:27.Atualizado em 15/11/2021 às 07:11.

Marcelo Valmor


Professor Unimontes



A presença da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na Unimontes, gerou, entre outras coisas, a possibilidade de se discutir e resolver, de forma definitiva, questões cruciais para a afirmação da nossa universidade pública. Estamos falando da autonomia universitária, de um restaurante universitário de fato, e da revisão do princípio da proporcionalidade dos votos nas eleições para reitor, diretor de centro e outras instâncias que exigem o voto democrático e legítimo de toda a comunidade.



Dos deputados participantes, podemos destacar a presença de Ruy Muniz (DEM) e Carlim Moura (PC do B), que não mediram esforços para que esses temas não caíssem no esquecimento durante os seus mandatos. Ruy porque milita na área de ensino, sabe da importância da universidade pública, uma universidade capaz de gerar uma classe média mais “consumista”, mais ambiciosa, e que faça do saber um elemento definitivamente encravado no seu processo de construção de vida. Já Carlim, deputado de primeiro mandato, tem se destacado na defesa intransigente do ensino público, gratuito e de qualidade, bandeiras históricas dos movimentos de esquerda, e que o PC do B jamais abandonou, ao contrário de outras siglas que habitam o mesmo espectro político.



Mas o que mais chamou a atenção, e apontou para a novidade - evidentemente que para aqueles que acompanham o desenrolar da vida política da cidade -, foi a presença do deputado estadual Ruy Muniz. O velho embate entre os interesses de donos de escolas e os interesses das escolas públicas foi posto em discussão; paradigmas foram quebrados quando o deputado propôs a ampliação não só da estrutura física da Unimontes, mas também no aumento do número de vagas dentro das salas de aula. Os tempos mudaram? Ruy rema contra seus negócios? Evidentemente que não, caro leitor. Apenas sinaliza para uma ampliação desta instituição, que apesar de todas as restrições orçamentárias, ainda é bem administrada pelo Reitor Paulo César Gonçalves de Almeida.



Mas o ponto alto de toda essa discussão, sem sombra de dúvida, foi o fim da lista tríplice e a nomeação imediata, por parte do governador, daqueles candidatos que serão escolhidos por toda a comunidade acadêmica futuramente. Alunos, professores e servidores não podem ter o seu direito cerceado por escolhas de cunho estritamente pessoal, político e arbitrário. E como um assunto puxa o outro, foi tocado um ponto correlato a esse: a revisão dos critérios de proporcionalidade de votos entre alunos, servidores e professores. É preciso democratizar ainda mais o processo. E democracia rima com mais participação.



Só a título de lembrança, o processo eleitoral hoje observado na Unimontes consagra o princípio da votação paritária, ou seja, o peso dos votos dos professores corresponderia a 70% do total apurado, enquanto que funcionários e estudantes deteriam os outros 30% distribuídos meio à meio. Feita a eleição, uma lista é encaminhada ao governo do estado, que estaria livre para escolher um dos três nomes mais votados nas eleições para reitor.



Nesse momento, portanto, é preciso somar forças. Greves por aumento de salários não resolvem os nossos problemas (apesar delas serem necessárias em alguns momentos). As distorções precisam ser corrigidas na origem. O modelo de universidade precisa ser revisto. Por isso mesmo, a participação de deputados de diferentes matizes ideológicos, dentro da Unimontes, aponta para um amadurecimento da instituição, e para um somatório de forças no sentido de conquistar de vez sua autonomia. E ao contrário do que não querem alguns, o deputado do Democratas é o parceiro ideal nesse embate. Afinal, o único projeto que tramita na Assembléia de Minas acabando com a famigerada lista tríplice é dele. Portanto, esqueçamos as diferenças; é preciso avançar.



Nas últimas eleições para a Adunimontes, a fala mais interessante que ouvi durante o debate entre as chapas foi a da professora Ilva Ruas. Ela disse para quem quis, e também para quem não quis ouvir, que há uma dicotomia entre a universidade e a cidade. Que os professores entram para dentro dos muros da Unimontes e esquecem que habitam bairros, que tem vizinhos, que tem uma origem. A universidade não pode estar desassociada da vida cotidiana. Por isso mesmo, a radicalização do seu processo democrático, com a nomeação do mais votado, aproxima a universidade da comunidade na medida que garante a ela – a universidade -, o necessário respaldo social que foi o seu sustentáculo inicial.



Essa dicotomia apontada pela professora começou a ser quebrada com a presença, dentro da universidade, de propostas para debates que atendam aos interesses de toda a comunidade. A política, quando entra assim, nesse espaço, é salutar. Um nome como o de Ruy Muniz pode ser interessante para avançar com esse processo, já que se trata de alguém que resolveu meter a colher dentro de uma panela que estava queimando, e que ninguém quis olhar.



Não adianta alimentarmos a política da acusação, nomeando culpados e atrasando o desenvolvimento do ensino superior no norte de Minas Gerais.



Será preciso muito mais do que títulos de mestres e doutores para implementar, de fato, uma universidade que atenda aos anseios de toda a população de Montes Claros e região.

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