Por Laura Conrado
Até hoje fico sem graça da bola fora que dei com uma ex-colega de trabalho. Sempre via seu marido buscá-la e, gentilmente, sempre nos cumprimentávamos na portaria do prédio. Certo dia, esse marido pediu que eu avisasse que ele havia chegado. Passei na porta da sala dela e soltei, sem a menor (consciente) pretensão:
— Fulana, seu pai já chegou!
Eu fechei a porta e segui o corredor me dando conta da m. que tinha feito. Juntei uma coisa com a outra e notei que o tal marido era bem mais velho que ela, parecendo realmente ser o pai dela. O bandido do meu inconsciente não deixava passar nada despercebido.
A diferença de idade e o fato dele buscá-la todo dia na porta do trabalho, como se fosse uma menina saindo da escola, realmente conferia um ar “papai e filhinha” à relação. Mas talvez esse não fosse o motivo da palavra errada ter saído da minha boca. Se o que toda menina quer é um “pai para sempre”, a menina dentro de mim tinha dado um berro. Talvez de inveja. Na época, eu não tinha carro e custava a me manter. Tinha sonhos impossíveis de consumo. E ter um homem mais velho, facilitando a vida, parecia ser bom.
Alfinetei, sem querer querendo, a pobre da moça que só queria dar continuidade à fantasia de infância, da qual eu também compartilhava. Chorei reconhecendo minha dificuldade em me tornar adulta, em crescer com meu próprio esforço e ser responsável pelas minhas escolhas.
Acredito que amor não tem idade e que é muito gentil o namorado buscar no trabalho. Só não dá para escolher alguém com a finalidade de suprir o vazio da criança que há dentro de nós. #MeTiraDessa!
Meu ato falho valeu algumas boas reflexões e também algumas viradas de cara da moça que nunca mais conversou comigo.