Atentado à liberdade de imprensa

Jornal O Norte
Publicado em 16/07/2011 às 09:17.Atualizado em 15/11/2021 às 17:31.

Luis Carlos Gusmão (*)



A visita do governador Antônio Augusto Anastásia a Montes Claros (no Norte de Minas Gerais, a 420 quilômetros de Belo Horizonte), foi marcada por um fato inédito na cidade e que remonta aos tempos da ditadura militar. O juiz Marco Antônio Ferreira, da 3ª Vara Cível, concedeu liminar ao prefeito da cidade, Luiz Tadeu Leite (PMDB), mandando recolher das bancas o jornal Daqui, cuja edição desta sexta-feira traz denúncias contra o chefe do executivo local. É conhecida na cidade a proximidade entre Marco Antônio e o Tadeu Leite.



O prefeito temia repercussão negativa justamente no dia em que o governador visitava Montes Claros. Não por acaso, o recolhimento dos exemplares começou pelas bancas localizadas na região em torno da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), onde a comitiva de Antônio Anastásia se reuniu e para onde se voltaram todas as atenções da cidade. O jornal traz como matéria de capa o imbróglio político entre o governador e o prefeito, excluído das negociações que culminou no anúncio de uma fábrica da Alpargatas para Montes Claros.



A atitude de Anastasia seria uma retaliação a Leite, responsabilizado pelo Palácio da Liberdade pela desistência da montadora alemã BMW em montar uma unidade em Minas Gerais. Em entrevista à imprensa, a secretária de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Dorothea Werneck, acusou diretamente o prefeito pelo recuo da BMW. Por meio de sua assessoria de imprensa, o próprio Anastasia não escondeu sua contrariedade com o episódio.



Para ele, houve quebra do princípio da confidencialidade quando Tadeu Leite anunciou que a montadora viria para Montes Claros. Segundo ele, nunca foi cogitado que o município seria contemplado com o empreendimento. Ele esclareceu que o projeto do grupo alemão é se instalar na América Latina e que o Brasil levaria vantagem sobre o México, outro país na disputa. Nesse caso, Minas entraria na disputa e já estava fazendo gestões nesse sentido.



Do ponto de vista político, mesmo que o Estado fosse o escolhido, dificilmente Montes Claros ganharia a concorrência com outros municípios. O governador, que é do PSDB, optaria por um aliado. Daí a razão para o governador ter guardado sigilo até o último instante sobre a vinda da fabricante das sandálias Havaianas, temendo que o peemedebista, para capitalizar politicamente, anunciasse o investimento e atrapalhasse as negociações, como no caso que inviabilizou a vinda da indústria automobilística.



O mal estar entre os dois se agravou depois que Tadeu Leite, pelo twitter, chamou o governador do Estado de mentiroso, rebatendo Anastasia no caso da BMW.



O Daqui traz outras matérias que desagradam a administração municipal, como a compra de um carro de luxo com dinheiro carimbado da Secretaria Municipal de Educação. O caso, denunciado pelo vereador Claudinho da Prefeitura (PPS), caracterizaria desvio de finalidade, pois o veículo não é utilizado pela Secretaria em questão. Na edição anterior, o jornal já denunciara a compra, pelo gabinete do prefeito, de bebidas alcoólicas.



Todas as matérias são acompanhadas de provas documentais, como notas de empenho. O jornal, que se tornou o único órgão de imprensa de Montes Claros a criticar a administração – os demais têm ligação com a Prefeitura -, passou a ser alvo de perseguição do prefeito desde que começou a questionar o repasse de verbas oficiais a um time de vôlei, via Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Educacional de Montes Claros (Funadem), que até o ano passado era dirigida justamente por seu filho, Luiz Tadeu Martins Leite. Ele se elegeu deputado estadual explorando o sucesso inicial do time, que trouxe várias atletas de renome nacional e chegou a ser vice-campeã da Superliga, em 2009.



Com base em reportagem do jornal, a Justiça abriu processo contra pai e filho, aceitando denúncia do Ministério Público. O caso ganhou repercussão nacional e está agora na instância do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode cassar os mandatos dos dois e os tornar inelegíveis.



Luiz Tadeu Leite também ficou incomodado com matéria que denunciava o superfaturamento da merenda escolar, privatizada pelo prefeito. Quando assumiu, em 2009, ele transferiu o fornecimento da merenda para a empresa Stillus pela bagatela de R$ 11.946.000,00 milhões/ano, um gasto extra aos cofres da Prefeitura de 834% em relação ao ano anterior. Seu antecessor, Athos Avelino, gastou apenas R$ 2.047.535,84 em 2008.



(*) Jornalista


 

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