Felicidade Patrocínio
Escultora, membro da Associação dos artistas plásticos e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Fundada no ano de 1989 pelo inesquecível artista gráfico Mário Magno Cardoso Filho (Mário Boy), juntamente com outros artistas da cidade, com a finalidade de reunir os profissionais das artes plásticas para valorizar , difundir e ampliar os seus exercícios artísticos, a Associação dos Artistas Plásticos tem promovido as Artes nos planos político, econômico, educacional e da cultura, mediante o congraçamento dos seus associados com todos os setores culturais da cidade.
Através de exposições coletivas e individuais tem divulgado a arte de todos e de cada um, estendendo o reconhecimento da qualidade e valor da arte montes-clarense a todo o Brasil e alem deste.Através de reuniões, seminários, work-shops e conferências com nomes de peso do setor, tem promovido a atualização de conhecimentos e técnicas dos seus associados.
Paralelo à defesa dos interesses da classe, esta Associação de Artistas tem registrado no seu exercício, a face da cultura da cidade.
Insistentemente reivindica dos detentores dos poderes, os meios para a ampliação da sua expressão e da expressão artística de todas as camadas sociais através de salões de arte, através da inserção de obras artísticas nos espaços e edificações públicas, fazendo ver e saber que a arte é um produto social e que o espaço dos homens se torna mais humano e habitável em decorrência da presença e convivência com o belo da sua produção.
Esta Associação surgiu da consciência de um grupo de fazedores de arte que reconheceu a importância da criação, assim como, pela atenção motivada e motivadora de tudo que acontece no campo artístico da região.
Nasceu sob uma filosofia que reporta às palavras de Rubem Valentim quando disse que :”A arte é tanto uma arma poética para lutar contra a violência, como um exercício de liberdade contra forças repressivas”.Premissa esta sempre atual para o artista que dialeticamente vive entre a repressão das possibilidades e a liberdade que se impõe.
Surgiu para somar a sua parcela de colaboração à evolução de uma sociedade que se quer pensante, livre e responsável..Era esse o entusiasmo dos fundadores e do primeiro presidente Mário Filho e de certo modo é o que ainda permanece, pois onde o sentir e perceber são maiores, onde é mais ampla a visão das realidades, onde brota o fecundo exercício da criação haverá sempre um germe do novo e uma vontade construtiva sólida. Refletimos que esta Associação foi fruto no seu nascedouro de uma liderança aurática, a pessoa de Mário Magno Filho, o então conhecido Mário Boy.
MÁRIO BOY E A ASSOCIAÇÃO
Montes-clarense, nascido em 1956, filho de Mário Magno Cardoso e Letícia de Freitas Araújo Cardoso, o Mário Boy como era conhecido, trabalhou desde menino nas artes gráficas dos jornais da cidade.Estudou até o científico. De Montes Claros partiu para Mato Grosso onde muito produziu artisticamente.Lá viveu entre os índios de várias tribos fazendo pesquisas de pigmentos.Em Campo Grande dirigiu por um tempo o Conservatório de Artes.Naquele estado foi o primeiro classificado em um concurso de artes que oferecia como premio, viagem de estudos à Itália.No entanto, com a saúde já precária, Mário reverteu as passagens e prêmio em recursos para o transplante do rim que o corpo exigia..Residiu também no Pantanal, em Brasília e Rio de Janeiro. Voltando a M.Claros na década de 1980 fundou com outros artistas a Escola Arte e Ofício.Trabalhou na Ascom da Prefeitura Municipal e em 89 reuniu-se com um grupo de artistas da cidade numa varanda garagem do numero 203 da rua Odilon Macaúbas e lá fundou a Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros que presidiu por 2 gestões. A segunda gestão foi interrompida no dia 30 de Setembro de 1992 pela sua morte causada por complicações renais, vindo a substituí-lo a vice presidente Felicidade Patrocínio.Tendo pouco tempo de casado, deixou viúva Nilza Cardoso e nenhum filho alem dos seus quadros.
Sobre o seu trabalho artístico destacaríamos a técnica, um grafismo modernista, figurativo com ensaios abstracionistas onde revela um discurso explosivo, livre de rótulos e convenções, já em defesa do meio ambiente e da transformação social no país.O Mário pregava insistentemente a liberdade de criação.
Sobre o seu trabalho assim se expressou a artista plástica Cecília Stricher: “Mineiro de Montes Claros, profissional com experiência da gráfica do Senado em Brasília e Jornal da Manhã no Rio de Janeiro, Mário Filho nos mostra hoje a sua técnica magistral, sua personalidade essencialmente gráfica, seus resultados de pesquisas constantes em matérias diversas através dos quais consegue aliar razão e emoção, sensibilidade e técnica, numa linguagem simples, constante e universal”.
Durante as suas gestões como presidente, o Mário conseguiu boas realizações Por exemplo, a Primeira Exposição Coletiva desta Associação no espaço cultural da Câmara de Vereadores de Montes Claros(espaço que hoje inexiste).Foi uma bela exposição.Depois vieram outras.Destacamos uma exposição e jantar comemorativos do Dia do Artista Plástico na residência e jardim da vice-presidente Felicidade Patrocínio, quando e onde compareceu toda a representação do mundo intelectual e cultural da cidade.Lá estavam o prefeito Mário Ribeiro, o então diretor da TV local Elias Siufi, o Secretário da Cultura Hamilton Trindade,a Diretora do Conservatório, o Reitor da Unimontes, e os diretores das Associações da cidade voltadas para a cultura.Foi uma grandiosa confraternização com muitos discursos favoráveis às artes e aos artistas da cidade.Neste evento foi feita uma importante homenagem ao artista Raimundo Colares (falecido em 86), com a projeção (em telão) do filme recém produzido pelo cineasta Sérgio Wladimir Bernardes, v
iabilizado através de verba da municipalidade na gestão do prefeito Mário Ribeiro, com o título:.“Raimundo Colares,” além de uma exposição coletiva ao ar livre. Foi um evento completo e perfeito que ficou na história da Associação.
Ao Mário Boy se sucederam como presidentes da Associação; Felicidade Patrocínio,(uma vez como substituta do presidente por seu falecimento e mais 2 gestões por eleição) Walmir Alexandre, Argentino Sidônio, Fábio Assis Martins Biolla, Hélio Brantees(2 vezes), Gemma Fonseca(2 vezes) e agora Carlos Muniz.
Durante esses anos a Associação ampliou o quadro de associados e muito realizou.
Poderíamos citar a criação da Galeria de Artes Mário Filho nas dependências da Amams em parceria com o seu então presidente deputado Arlen Santiago e a secretária do mesmo órgão Elbe Brandão hoje deputada estadual e secretária do governo de Minas. Essa galeria funcionou por vários anos e realizou 43 exposições com artistas da cidade e região .Esse espaço foi negociado com patrocínio total da casa, no que se referia a convites, divulgação nos meios de comunicação e coktais de abertura de exposições. Tivemos lá momentos de grande expressão. Lá expuseram artistas iniciantes e consagrados. Por exemplo; Konstantin Cristoff, Yara Tupinambá,artistas de cidades que compõem a área mineira da Sudene e todos os artistas componentes da Associação em coletivas e individuais.Foi o patrocínio desta galeria que possibilitou a realização da grande exposição da VIA SACRA de Konstantin Christoff no espaço do Shopping Center de M.Claros, só apresentada até então em 2 grandes museus do Brasil.
Para o aprimoramento das artes na cidade, a Associação agenciou a vinda de grandes nomes para cursos e palestras .Por exemplo:Yara Tupinambá, Orlando Castanho, Jarbas Juarez, Luiz Geraldo Dolino, entre outros.Editou e publicou por algum tempo um jornal próprio; o “Informativo das Artes Plásticas”.Promoveu o Concurso de Arte Logotipo da Associação, com premiação. Criou e manteve por certo tempo uma galeria comercial, nas dependências do Shopping Center para comercializar as obras dos artistas.Divulgou as artes da cidade em outros centros, através de exposições em espaços como: Banco Mundial em Brasília, Tribunal da Alçada em BH, Espaço cultural do Superior Tribunal de Justiça(Brasília) e outros. Anualmente (há mais de 10 anos), no mês de Novembro cada associado doa uma obra para o leilão de arte do Baile da Felicidade do Rotary Clube Leste,cujos recursos são revertidos em obras assistenciais do Asilo de São Vicente de Paulo.
Dois dos seus associados já estiveram frente a Secretaria Municipal de Cultura, Wanderlino Arruda (na 2a gestão do Prefeito Luiz Tadeu Leite) e João Rodrigues (gestão Athos Avelino Pereira,ainda em exercício). Sempre que solicitada por qualquer gestão municipal, respondeu de maneira favorável e prestou serviço, independente do prefeito ou partido da ocasião, demonstrando assim que apesar de ser uma entidade política no que este conceito tem de essencial, é apartidária. O seu partido é a Arte e a Cultura.
Integram e integraram o seu quadro de associados os nomes dos artistas:
Mário Boy, Fábio Assis Martins Biolla, Felicidade Patrocínio, Hélio Brantees, Lúcio Saraiva, Sérgio Ferreira, Konstantin Christoff, Afonso Teixeira, Antonio Mardem,Carlos Araújo, Hélio Guedes, Lirs Helena, Rogério de Castro, Allan Veloso, Aderbal Andrade(falecido), Darlan Rego (falecido),Geny Tupinambá,Olímpia Arruda, Carlos Muniz, João Rodrigues,Wanderlino Arruda,, Lúcia Cangussú,Nelson Evangelista (falecido),Samuel Figueira, Conceição Melo, Celeste Rodrigues, Lourdes Mota, Felicidade Silveira, Gemma Fonseca, Argentino Sidônio, Guilhermina Lúcia, Igor Christoff, Júlio Vallin (atualmente na França, mas em constante contato com a Associação) Simon J.Barteling, Márcia Prates, Marco de Souza, Henrique Torres, entre outros, grupo este que, unido, reúne-se freqüentemente apontando metas e buscando o desenvolvimento e aprimoramento das artes plásticas na região.
O NOVO PRESIDENTE: CARLOZ MUNIZ
Participante da Associação dos Artistas Plásticos desde a sua criação Carlos Muniz foi e é presença e apoio constantes em todas as ações e realizações do grupo. A sua obra e trajetória artísticas são exemplos que justificam o slogan que põe Montes Claros em destaque no Brasil, como cidade celeiro de arte.
Vencedor de importantes salões de arte, as telas de Carlos Muniz viajam pelo mundo e se exibem em importantes galerias da Europa, da África do Sul e Américas, espaços estes cujo acesso exige qualidade e categoria, o que engrandece a nossa Associação e muito nos envaidece.
Para quem ainda não teve a felicidade de conhecer este artista e sua obra, definida como minimal arte, necessário se faz saber que ele se iniciou nos salões de arte de M.Claros(que, infelizmente não mais existem), sob a influência da pintura de Raymundo Colares, seu conterrâneo mundialmente conhecido, mas logo a seguir tomou outra direção.
De acordo com Frederico Morais, na sua primeira exposição individual no Rio de Janeiro, Carlinhos já se apresentava maduro e com projeto definido:”Não oferece ao público um caminho de terra, uma picada, um desvio, um entroncamento sugerindo um tumulto de caminhos, mas uma estrada já pavimentada, a partir de um aprendizado auto-didático, mas comprovado em sucessivos salões onde foi premiado”.
Ancorada no olhar deste crítico e outros, nós, que já apreciávamos a pintura de Carlinhos, passamos a contemplá-la com mais discernimento, e foi assim que vimos a sua gestual pictórica aportar na geografia urbana cheia de simbolismos de trânsito e daí partir para uma diluição progressiva, com redução de elementos, num processo radical de simplificação até chegar ao minimalismo abstrato.
Percebemos que Muniz não descarta um compromisso com o BELO, não o belo do conceito tradicional, nós interpretamos. Distanciando–se do convencional, ele vai liberando com equilíbrio, “cores puras e sensórias para planos e espaços precisos e matematicamente calculados.”
Ele vai descortinando a sua arte em telas muito grandes, diríamos; painéis, polípticos, trípticos, dípticos, onde extravasa retângulos e quadrados em planos opostos, inclinados,” rasgados ou cortados por cortes fragmentados, ou retas paralelas e simétricas. Com perfeccionismo colore os grandes espaços, monocromaticamente, ou elaborando contrastes intensos, que com o tempo foram se atenuando, adquirindo expressões mais leves, até sutis, chegando por vezes aos neutros ou ao predomínio do preto e branco.
Outro aspecto que nos causa admiração é o fato deste artista, com uma produção tão vasta, exercer paralelamente a medicina, o que faz muito bem e como esteta, já que se inclinou para a cirurgia plástica.
É como espectadores atentos dessa arte e deste artista, que nós companheiros de oficio e ideais manifestamos satisfação por ter em nosso grupo um artista que hoje, consagrado e reconhecido, está aqui no Brasil e la´fora, integrando as mostras dos melhores geométricos brasileiros. Vejamos algumas das exposições que fez alem das fronteiras nacionais nos três últimos anos;
Em Novembro de 2005 participou de coletiva em Pretória, capital da África do Sul, em parceria com 3 nomes de peso da nossa pintura geométrica como Dolino, Manfredo de Souza Neto e Ronaldo Macedo.
Em Maio de 2006, Muniz expôs em Marrocos, com o apoio da Embaixada Brasileira naquele país.
Em Julho do mesmo ano, os quadros de Muniz, aportaram no outro lado do mundo, em Tóquio, Japão, também em meio às telas de grandes mestres da pintura geométrica brasileira.
Em Novembro do mesmo ano expôs em Lisboa, Portugal, na Fundação Medeiros e Almeida, novamente o aval da Embaixada Brasileira e finalmente no Brasil, onde realizou em Setembro uma individual na Galeria Patrícia Costa no Rio de Janeiro.
Em Outubro, outra individual na Quadrum Galeria de Arte de Belo Horizonte onde apresentou pinturas recentes e lançou o seu primoroso livro que depois em Novembro de 2007 lançou em Montes Claros durante uma exposição no Automóvel Clube.
Essa trajetória brilhante não para por aí, também em Novembro de 2007, Muniz participou de restrita coletiva na metrópole americana de Chicago com aval do cônsul geral daquela cidade. no espaço cultural localizado no Robert Morris Center.
E agora no ano de 2008, através da curadoria do grande Luiz Geraldo Dolino, a sua pintura foi incluída num acervo que reúne 40 importantes artistas brasileiros da atualidade e em forma de gravuras e serigrafias, essas obras viajam pelo mundo e já foram apresentadas numa coletiva denominada: “Panorama da Gravura Brasileira no Século XX”em Maio, em Lisboa e já está a caminho de Viena(Áustria), será apresentada em Túnis em Setembro e a seguir em Chicago.
Sobre a sua obra, assim discorreu o artista e curador de arte Luiz Geraldo Dolino:.....”Carlos Muniz é um artista muito importante.Não apenas pelo domínio do ofício, que é visível para qualquer olhar, mesmo os mais desavisados, mas sobretudo pela importância dos signos que ele escolheu como linguagem.Carlos Muniz segue uma tradição importante no Brasil e no Mundo.No Brasil porque a configuração geométrica faz parte do nosso imaginário ancestral e integra uma corrente que rendeu grandes expressões da arte brasileira, a partir dos anos 50-inclusive Brasília.No mundo, porque vem da tradição russa, consubstanciada no Manifesto Construtivista de 1917, de Pesvner e Gabo e que, outra vez entre nós, justificou a obra de grandes mestres:Volpi, Sued, Barsotti, Amílcar de castro, Waldemar Cordeiro, exemplos mais notórios.Carlos Muniz enfeixa tudo isso e de forma consciente, portanto arbitrária como convém a grande arte.Carlos Muniz é descendente e herdeiro dessa família de vastíssima cultura plástica”.
O que enche a Associação dos Artistas Plásticos de M.Claros de satisfação e orgulho por esse seu ilustre associado, agora presidente da mesma, é que, dentro desse artista tão completo habita também um ser muito especial, uma pessoalidade impar, poderíamos dizer, o protótipo da elegância.
Da sua gestão como presidente da Associação dos Artistas Plásticos esperamos um novo tempo, cheio de boas realizações a partir do nível de competência e discernimento deste companheiro que foi eleito por unanimidade. Intuímos que a elegância que marca a sua presença e trajetória ,assim como a retidão do seu traço, serão os mesmos na condução dos destinos desta importante entidade.
Parabéns, Carlinhos, e muito sucesso na sua gestão.