As verdades de Francisco

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 06/05/2014 às 02:01.Atualizado em 15/11/2021 às 16:49.

*Manoel Hygino

Francisco ganha simpatia do mundo. Não somente dos católicos, mas também de fiéis de outras confissões religiosas. Tornou-se mais popular que Gardel, o cantor argentino, que atraía grandes públicos a suas apresentações e que acorria à exibição de seus filmes. Embora nascido na França, Carlos Gardel se tornou o maior sucesso do tango, assim como a portuguesa Carmem Miranda se revelou no samba que o Brasil exportou até para Hollywood.

Francisco é um pontífice desenvolto, às crianças distribuindo beijos e abraços e abrindo os braços em gestos de afeto, ao percorrer as ruas e praças no papamóvel. Mas, além disso ou acima disso, inquieta-se com os problemas de nosso tempo e das pessoas. Em recente exortação, o Sumo Pontífice focalizou os desafios da humanidade, com a Evangelii Gaudium. Lá, ele diz verdades, que acho útil transcrever, ipsis litteris: “Neste momento, a humanidade vive uma transformação histórica, que podemos constatar nos progressos que se verificam em vários campos. São louváveis os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exemplo no âmbito da saúde,da educação e da comunicação”.

Em seguida, adverte: “Todavia, não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive seu dia a dia precariamente, com funestas consequências. Aumentam as doenças. O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos países ricos”.

Adverte: “A alegria de viver frequentemente se desvanece, crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais potente”. Em um tópico, observa que, “assim como o mandamento “não matar” põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, hoje devemos dizer “não” a uma economia de exclusão e de desigualdade social”.

Para Francisco, a economia atual mata, não sendo “possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão”.

Límpidos os comentários e ensinamento. “Não se pode mais tolerar que se jogue comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, em que o poderoso engole o mais fraco”.  

Adiante: “Em conseqüência dessa situação, grandes massas de população veem-se excluídas e marginalizadas, sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, um bem de consumo que se pode usar e depois jogar fora. Assim teve início a cultura do “descartável”, que aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente de fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder, já não está nela, mas fora. Os excluídos não são “explorados”,mas resíduos, “sobras”.

Francisco é claro, direto, simples e eloquente e acrescenta que, na cultura ora dominante, o primeiro lugar é aquilo exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório, em que o real cede lugar à aparência. Reclama-se segurança, mas não se eliminam a exclusão e a desigualdade, tentando-se impossível desenraizar a violência.

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