Petrônio Braz
O número sete tem sido apontado como possuidor de simbolismos por todos os povos e por todas as religiões. Sete sãos os sábios da Grécia, sete são as Maravilhas do Mundo, sete são os pecados capitais e sete são os dias da semana, sem falarmos nos sete céus e nos gatos que têm sete vidas.
A Globo está apresentando a novela “Os Sete Pecados”, e dela se extrai a realidade da vida do mundo atual. O papa Gregório Magno, no século VI, instituiu os sete pecados capitais.
Hades, para os gregos, ou Plutão, para os romanos, era o deus do reino subterrâneo dos mortos. As portas do Inferno, como descrito nas obras mitológicas gregas, e se extrai da Divina Comédia, eram guardadas pelo cão Cérbero, de múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço. A Hades, ou o reino de Hades era cercado pelo Rio Aqueronte que os mortos atravessavam na barca de Caronte. Ali só entravam os mortos, de onde não podiam sair.
O jornalista Vicente Serejo (jornaldehoje.com.br), acertadamente afirmou que “o homem viveu dois mil anos com medo dos pecados capitais, quando eram sete as portas do inferno. Hoje andam tão fracos, se é que ainda são pecados, que outros são os medos e até o pobre Diabo perdeu seu veneno. O que poderia haver de tão perigoso assim na ira, luxúria, gula, inveja, soberba, avareza e preguiça?”
Tão interessante é o artigo de Vicente Serejo que não me foi possível fugir à tentação de mostrá-lo, na sua essência. Observa ele que “a Ira virou coragem, mesmo quando feita de uma certa e tola valentia, afinal os valentões e sua vulgaridade substituíram a nobreza dos guerreiros. Da luxúria pecadora e terrível o que nos restou foi o sexo como expressão do amor, e tudo sob a nova verdade de que não há amor sem prazer físico. E a gula, se servida com glamour e requinte, é um charme, porque já não se trata de qualidade, mas do seu preço e sua exibição consagradora”.
Não se garante que a inveja, ”de tão terrível e universal, tenha desaparecido, mas agora se tem um novo tipo: a inveja do bem. Não se quer a glória dos outros e prova disso é a traição da palavra quando o adjetivo ‘invejável’ foge da boca como expressão de elogio, mas reparem bem que leva dentro de si a palavra inveja. A soberba existe, mas não é mais pecado. Compreende-se o pedantismo dos ricos e poderosos como sinais da personalidade forte das vitórias merecidas”.
O que nos restou? – pergunta Vicente Serejo. – “Talvez a avareza, mas mesmo assim tudo depende do ângulo de visão. Os avarentos de hoje transmudaram-se em prevenidos. Poupadores, como ensina a economia em nome do futuro. Antes, o avarento era um primo irmão do esquizofrênico, mas acontece que o tempo passou e o mundo é outro. Vive-se o primado do individualismo, essa nova e perversa renascença dos que não estendem a mão porque só a fortuna pode garantir a felicidade humana”.
Talvez só a preguiça, transmudada em ócio. “Mas, mesmo assim, virou malandragem. Não aquela de antes, ingênua, traço da nossa cultura, nascida no morro e na companhia dos bichos do jogo, estudada por mestres e doutores. A malandragem de gravata, cínica e dissimulada, corroendo como ratos as finanças públicas entre as colunatas modernas dos nossos palácios, símbolos de poder e orgia”.
Tudo está tão mudado que, segundo Savater, “até o sexo perdeu seu sentido de recreio lúdico dos jogos amorosos para ser uma olimpíada de eficiência e sucesso. Houve um tempo, conta o filósofo espanhol, que o sexo era algo sagrado, acima do bem e do mal, intocável por umas tantas artimanhas da vida besta. Hoje, não. Vivemos sem ritos, sem liturgias. Tudo caiu na banalidade invencível. Até os sete pecados que um dia já foram capitais”.