Anelito de Oliveira
Professor e pesquisador universitário
anelitodeoliveira@gmail.com - anelitodeoliveira.blogspot.com
Estar em Montes Claros ao longo deste janeiro foi uma experiência interessante, para dizer o mínimo, de acompanhar o nascimento de uma gestão municipal, por um lado, e de ver o renascimento de Luiz Tadeu Leite como administrador público, por outro. Ambos os processos suscitavam justa expectativa desde outubro passado, especialmente entre aqueles que têm bom senso para separar disputa eleitoral de administração, colocando o compromisso com o bem-estar da população e a sustentabilidade social como aquilo que, ao final das contas, importa realmente.
Doze anos passaram desde que Tadeu Leite deixou pela segunda vez a prefeitura, e muita coisa, claro, mudou de lá pra cá, quase que simultaneamente, ao ritmo frenético que caracteriza a globalização. Em 1996, Montes Claros, assim como outras cidades do mesmo porte, ainda estava mais voltada para o passado do que para o futuro, mais alicerçada em suas tradições e, por isso mesmo, mais resistente às descaracterizações que acompanham a onda globalizante. Ainda era mais uma cidade do sertão brasileiro, apegada a uma aura romântica (Seu Ducho com seu grupo de seresta na Praça da Matriz), com uma identidade mais própria.
Não que fosse mais fácil administrar a cidade naquela época, mas, sem dúvida, seus problemas eram mais “caseiros”, digamos, resultantes, em sua maioria, do conturbado desenvolvimento histórico local. Hoje, em pleno 2009, problemas como a explosão da criminalidade, tráfico de drogas, desemprego, favelização, dengue, prostituição infantil etc não são exclusivos de Montes Claros ou de qualquer outra cidade, mas também da região, das capitais, do país. Certos problemas, como os relacionados ao meio ambiente, exigem até a colaboração de órgãos estrangeiros para seu devido enfrentamento.
Diante deste quadro caótico tão explícito no presente da cidade, a pergunta básica não poderia ser outra senão sobre qual a proposta de gestão mais adequada, qual o modo mais produtivo de operacionalizar o social hoje em Montes Claros. Ninguém acredita – ou apenas os ingênuos convictos acreditam – que a administração pública municipal, trabalhando sozinha, tem condições de solucionar todos os problemas da cidade. Ninguém duvida, por outro lado, que há um papel decisivo que somente a administração pública pode desempenhar nesse processo.
As primeiras ações de Tadeu Leite deixaram claro, neste mês de janeiro, que este papel consiste em promover a interação entre os vários segmentos da sociedade em torno do bem comum. O ecletismo da sua equipe, o acordo com o PT e a concessão de anistia para quitação do IPTU apontam para uma perspectiva interacionista que se contrapõe à inegável perspectiva autista, encerrada em si mesma, que acabou por marcar a administração anterior, inviabilizando sua continuidade. Tadeu, do ponto de vista da gestão de um tecido social complexo, começou muito bem.