Por Manoel Hygino
Antigamente, no tempo do cinema preto e branco dos caubóis, havia bandidos e mocinhos. Isto é: o malfeitor, salteador, bandoleiro, criminoso, assassino, com os quais não se deve ter contemplação, na opinião de Bernardo Guimarães. Hoje, bandido não é mais rigorosamente um termo judiciário embora, segundo longa tradição judiciária, identifique o homem que fazia ou faz parte de um bando e que, escapando à ação da lei, vive à custa de delitos de toda espécie, sendo enfim um indivíduo perigoso, capaz de torpezas.
O advogado Huascar Terra do Valle definiu: “é o indivíduo predador”, que age movido por seus interesses, sem compromissos com as demais pessoas e com a sociedade. Em resumo: “para o bandido, sua vítima é apenas uma presa. Um objeto do qual se tira todo proveito, sem a menor consideração para com a individualidade da presa. Para o bandido, não existem semelhantes. Só presas”.
Huascar lembra o caso dos dois irmãos que, em Belo Horizonte, sequestraram uma menina de 8 anos, seviciram-na, atearam fogo ao corpo e exigiram dinheiro da família. Para eles, a menina não tinha pai, nem mãe, não era uma pessoa, não tinha sonhos, nome ou futuro. Não passava de um objeto de prazer e lucro. Assim, o bandido é pior do que uma besta selvagem e a comunidade humana está cheia deles.
Um detalhe apontado por Huascar: “O bandido tem tropismo para posições de poder e liderança” e para protegê-los há cada vez mais leis e a Constituição de 1988 contém artigos destinados a conceder “privilégios para as elites do poder”.
Transcrevo integralmente: “Em consequência da atração que o poder exerce sobre bandidos, hoje a maioria dos postos públicos, particularmente políticos, está ocupada por indivíduos que só usam o poder para amealhar mais privilégios, mais poder e mais riqueza. Nem por um segundo, eles se preocupam com as consequências de suas atitudes para o resto do país. A imensa injustiça social resultante do banditismo no poder é totalmente ignorada pelos marajás da república, que são os beneficiários diretos desse banditismo. Eles enchem os bolsos. E lavam as mãos”.
Embora duras, são ideias que precisam ser pensadas, para melhor compreender o tempo que vivemos e os fatos com os quais convivemos corriqueiramente, sem dar-lhes maior atenção. No entanto, há gente desse tipo que ataca os transeuntes, que invade residências, casas de campo e comércio, que roubam tudo aquilo que possa estar a seu alcance e pelo qual se interesse.
Impressionante ainda: nesta nossa época, que seria civilizada, assiste-se cruéis assassinatos por uma bicicleta, por uma moto, por um carro, por um celular, sem falar naqueles indivíduos que, aparentemente, matam pelo prazer de matar.
E há tantos outros tipos de malfeitores: os que estupram e causam perturbações dos ofendidos pelo resto da existência; os pedófilos, os torturadores. Mas há outro grande segmento de pessoas que, agindo como tal, não gostam, não permitem serem chamados de bandidos: são os mais espertos, os corruptos, que têm até a cachimônia de elaborar leis e pô-las a seu serviço.