Por Cláudia Gabriel
Eu adoro olhar pela janela – da casa, do carro, do ônibus, do avião. Foi numa viagem que descobri a poesia secreta do lado de fora do vidro. Era noite e chovia. As gotas acumuladas se iluminavam pela claridade dos faróis. Uma beleza que me fez pensar em outras tantas paisagens. Céu estrelado, lua redonda ou as brumas de um dia frio que desenham imagens como num sonho.
Eu também gosto de ver gente pela janela. Um jeito de fugir do excesso de pensamentos e de sair de mim. Gente passando na rua, rindo, conversando, fazendo a rotina. E como eu amo a janela de um hotel! Aqueles últimos minutos em que você se despede silenciosamente de um lugar, sem saber se algum dia vai haver retorno.
Mas o que eu admiro mesmo são as janelas que a gente vai abrindo ou fechando pela vida. Sim, porque janelas não são tão decisivas quanto portas. Têm certa reserva. Em quantas situações, a gente se isola porque é confortável ficar assim? Decepção com alguém, preguiça de conviver e aquela vontade de se recolher num ambiente aconchegante... Fechar uma janela pode ser só o intervalo necessário para a recuperação. Com o tempo, você consegue regular melhor a quantidade de luz que vai entrar, aos poucos, pelas frestas.
Janelas também podem representar a abertura para o mundo. Mesmo que estejam só entreabertas, sempre existe a possibilidade de uma surpresa – uma borboleta colorida ou um pássaro exótico. E aí a gente decide escancarar cortinas e persianas pra receber a novidade. O ar chega puro, varrendo tudo, carregando papéis, lembranças, limpando o ambiente. Janela aberta ventila a vida e refresca a alma.