* Manoel Hygino
Há muita coisa neste país imenso que não se conhece. Os meios de comunicação dos grandes centros, por motivos sabidos, têm interesses diversos e, evidentemente, não se quererá que a todos agradem e tudo focalizem. O Brasil ainda é descoberto todos os dias pelos brasileiros que desejam conhecê-lo. Escrevo este comentário porque se realizou em Roque Gonzales o 5º Manifesto, Canto e Poesia Nheçuanos.
Soa estranho o texto. Roque Gonzales é uma cidade relativamente pequena, se se considerar que as grandes do território contam com milhões de habitantes, vivendo seu dramático e violento cotidiano. Isso não acontece em Roque, nova em termos de tempo de fundação e nova pelo seu povo, vislumbrando o futuro com pensamento civilizador, sem dominação.
Há um herói naquela região: é Nheçu, um índio que esteve à frente de uma reação aos europeus que invadiram seu pedaço de terra, no século 17. Enquanto comemorávamos por aqui a proclamação da República, os de Roque Gonzales, operosos e fortemente dados às letras, à cultura e às artes, faziam o seu evento. Historiadores, professores, indigenistas e músicos, poetas e declamadores de diversas partes do Rio Grande do Sul e do país para lá se foram para reafirmar a legitimidade da luta do líder guarani e seu povo.
A cada ano, cresce essa mobilização. Acontece, enquanto os grandes centros se voltam a outras comemorações, que resultam crescentemente em conflitos violentos junto aos estádios esportivos, e após as baladas, inclusive impelidas pelas drogas, que se disseminaram pelo Brasil como seu mais cruel inimigo.
Roque Gonzales, incrustada na região missioneira, junto ao rio Uruguai, que divide o Brasil da Argentina, revela personalidade própria, diante dos fatores múltiplos em que vive. Tem tudo de bom que as cidades maiores dispõem e sabem viver como os gaúchos sabem, embora com suas particularidades. Sob a lembrança às vezes triste de episódios do passado, descritos no jornal de Marco Marques, e nos livros e contribuição à imprensa, que Nélson Hoffmann evoca a cada jornada, com fé e orgulho. Trata-se, todo esse conjunto de atitudes, posições e iniciativas de um caso singular na vida tumultuosa destes dias, em que valores fundamentais são relegados. Quem quiser verificar pode fazê-lo, como Alaor Barbosa, escritor de Goiás, que foi ver de perto. Apaixonou-se pela terra e pela gente, com seus ideais e maneira de ser.
