As esquinas da vida

Jornal O Norte
Publicado em 16/03/2011 às 10:35.Atualizado em 15/11/2021 às 17:24.

Neumar Rodrigues (*)



Soube recentemente de um amigo contemporâneo que decidiu abandonar tudo o que construiu durante duas décadas para dedicar-se a percorrer um novo caminho. Um caminho para onde o está conduzindo seu coração, para onde está sendo levado pela intuição. Sujeito de sorte esse. De sorte e de personalidade, por renunciar, sem culpas, receios ou arrependimentos, a um mundo aparentemente promissor e dedicar-se, com prazer e sabedoria, a trilhar desde o início um caminho do qual sinta ser realmente seu.



No redemoinho da vida, algumas vezes somos lançados ao reinício de tudo. Muitos, que olham de fora, julgam que isso seja derrota. Em boa parte das vezes, é mesmo vitória. Só quem é vitorioso pode virar o jogo e começar novamente. Esse vai e vem de oportunidades é mais para promover transformações do que para frustrar expectativas. Quando reiniciamos, temos a chance de refazer com maturidade aquilo que antes era apenas um processo de descoberta.



Talvez ele seja alvo de críticas por, no ápice da maturidade, escolher a mudança de caminhos. Mas, mesmo as pessoas engessadas nas convenções de trajetos pré-fabricados, vivem mudando em pequenos momentos. Atitudes simples, como abandonar o cigarro, reatar velhas amizades, romper a relação sem sentimento, cuidar mais de si mesmo, trocar o foco da atividade profissional ou alterar qualquer campo que esteja desfocado em nossas vidas, pode parecer fácil para o vizinho que observa de longe. São essas decisões que nos transformam e muitas vezes de forma mais árdua do que possamos imaginar.



E assim constrói-se a vida, como uma sucessão de erros e acertos que redesenha o nosso caráter. Quanto mais nos pautamos pela ética e pela responsabilidade, mais somos candidatos a recomeçarmos tudo, e de novo com a perspectiva da retidão à qual nos propomos.



Perde-se quem não se deixa levar por essa premissa e é conduzido pelas aparências. Estes, geralmente, têm medo de recomeçar. Estão sempre preocupados com o que os outros pensam e não têm a coragem, disciplina e autenticidade para consolidar um novo caminho, diferente daquele já percorrido.



O que as pessoas observam de nós é apenas uma breve resenha da obra que pretendemos ser. Somos muito mais do que é visto e vamos muito além do que é sentido. O melhor da vida é a experimentação. É termos a disposição e liberdade para nos reinventarmos e recomeçarmos sempre.



A esse amigo, um jovem e vigoroso quarentão, o meu respeito e admiração por não temer as esquinas da vida. Quando escolhemos com segurança o nosso caminho, sabemos dos cenários que nos aguardam após dobrá-las.



(*) Jornalista


 

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