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Quarta-Feira,25 de Junho

As crianças e os jogos - por Neumar Rodrigues

Jornal O Norte
Publicado em 13/04/2007 às 10:55.Atualizado em 15/11/2021 às 08:02.

Neumar Rodrigues *



Os jogos sempre fizeram parte do dia-a-dia do ser humano. Podemos observar que, em todas as etapas do desenvolvimento humano, os jogos costumam estar presentes, passando pelos movimentos lúdicos dos bebês até os carteados dos mais idosos. Vamos nos ater ao significado e função do jogo para a criança.



Não é à toa que a criança brinca. A atividade lúdica tem uma função de extremo valor para o bom desenvolvimento mental e intelectual do ser humano. Se analisarmos sua função a partir do processo de desenvolvimento intelectual, podemos dizer que os diversos exercícios mentais exigidos para a execução dos mais variados jogos, facilitam o desenvolvimento do raciocínio lógico e abstrato e da capacidade interativa. No entanto, é em nível afetivo que a atividade lúdica tem sua mais importante função, uma vez que está diretamente relacionada com a resolução dos conflitos psicológicos. Sabemos principalmente pelos estudos da psicanálise que a infância não é um mar de rosas para as crianças, como durante muito tempo se pensou.



O mundo mental infantil, além de ser extremamente rico, é cheio de conflitos, angústias, medos e inseguranças que exigem da criança mecanismos de elaboração, como uma forma de preservar sua própria sanidade mental. Assim, quando uma criança busca com freqüência destruir todos os brinquedos, isso provavelmente estará indicando uma tentativa de elaborar conflitos relacionados à sua agressividade, e quase sempre decorrentes de sua relação com os pais.



Poderíamos dizer que raramente uma criança brinca exclusivamente com o fim único de se divertir. O prazer advindo da atividade lúdica se relaciona com o alívio de tensão, angústia, dor mental e desconforto que seus conflitos internos lhe trazem. Para um psicólogo (e andei falando com vários deles), criança que não brinca ou brinca muito pouco indica dificuldade em lidar com seus conflitos internos e, conseqüentemente, isso é indício de grave distúrbio mental.



Atualmente, talvez uma das atividades lúdicas mais comum em crianças é o uso do videogame. A cada dia novos jogos são lançados, cada vez mais sofisticados e interessantes, e que acabam prendendo a atenção da criança por muito tempo.



Além disso, criam um estado de isolamento, onde a criança muito pouco participa das atividades da família, deixando de lado atividades aparentemente banais, mas superimportantes, como fazer as refeições todos juntos, sentar todos na sala para conversar, trocar um carinho, escutar lamentos e dúvidas sobre a escola.



Claro que quando uma criança passa muitas horas diante de uma TV ou de um monitor com jogos de videogame ou computador pode ter sérios prejuízos para seu próprio desenvolvimento, mas seguramente vai facilitar a vida de sua mãe, de seus pais, ou mesmo de toda sua família.



Assim, mesmo não desejável, o isolamento da criança tem seu benefício secundário para a família. É importante ser observado que a necessidade de brincar da criança não passa por jogos sofisticados e caros. Suas exigências internas se contentam com objetos simples. A fantasia e criatividade vão transformar todo objeto de tal forma que satisfaça a busca de elaboração das  dificuldades do mundo interno. Para isso é necessário que os objetos de brinquedo sejam simples e exijam o exercício da capacidade de criatividade e convivência.



Brinquedos caros e sofisticados normalmente apenas satisfazem aos próprios pais que, ao gastarem mais dinheiro na compra, têm sua culpa aliviada pelo pouco que dão afetivamente ao filho. Alguns pais chegam a cobrar notas melhores na escola por ter dado um brinquedo caro ao filho, quando esse precisava e queria mesmo era apenas amor e atenção das pessoas que ele tanto ama.



* Jornalista

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