*Manoel Hygino
Há alguns dias, comentei sobre o assassinato de César, na velha Roma, em que um dos envolvidos era Brutus, que passou, com o correr do tempo e entre nós, a ser o vilão principal do crime, principalmente porque o nome o definiria como violento. Um bruto matar um César, que o tratava como filho, segundo velha versão, tornava o ato sórdido e cruel.
Mas Brutus não era um qualificativo, mas o nome de vários personagens da história romana. Alguns foram figuras de proa no processo de expansão do grande império, um deles de grande importância na península ibérica. No entanto, o que adquiriu mais popularidade foi Marco Junio Brutus, filho de um partidário do líder político Mário, de mesmo nome, e de Servilia, irmã de Catão de Útica, de quem recebeu educação estóica. Quando eclodiu a guerra civil, seguiu sob comando de Pompeu, 48 a.C.. Quando seu partido foi derrotado, César o perdoou, recomendou que o poupassem, depois o cumulou de favores.
César não ficou nisso. Nomeou o governador da Gália cisalpina, depois pretor urbano. Pressionado pelos inimigos do grande soldado, Brutus se tornou líder de uma conspiração para eliminar César. Depois do assassinato, os que o perpetraram fugiram de Roma, sublevada. No triunvirato formado, Otávio e Antônio partiram a combater os assassinos.
Brutus, novamente derrotado, atravessou-se com a espada, pronunciando a frase: “Virtude, não és mais que uma palavra”.
A verdade e que, como registra Napoleão Valadares, mineiro do Noroeste, transferido a Brasília (em seu Romanos), César tinha voltado a Roma cheio de projetos como desviar o curso do Tibre, drenar terrenos pantanosos do Pontino, construir o Campo de Marte no sopé do Monte Vaticano, erguer um imponente teatro, fundar uma grande biblioteca, começando a fazê-las: “Seu predileto, talvez o sucessor escolhido, fora Otávio, seu sobrinho-neto, a quem tratava como filho. Era belo e inteligentíssimo, mas sem muito jeito para a vida militar.
Marco Antônio, aparentado com César, descreve o assassinato, no “Romanos” : “Tudo aconteceu lá dentro. Cimbro aproximou-se de César e puxou-lhe a toga. Decerto era o sinal combinado. Nesse momento, Casca deu a primeira punhalada. E Cássio, Décimo Bruto, Marco Bruto caíram de punhal em cima dele. Chegaram mesmo a se ferir uns aos outros. Foram 23 punhaladas. E César caiu ensanguentado junto à estátua de Pompeu”.
Naquela época, os embates políticos resultavam também em lutas campais e conquistas bélicas. Contra conspiradores, a espada. Os Idos de Março se tornaram uma advertência a todos os que se acham no poder, em qualquer tempo e lugar. Lembrai-vos.
Shakespeare, em sua tragédia histórica, publicada em 1623, dá singular relevo ao caráter de Brutos, apesar de sua ineficiência na conspiração. Esta resultou num simples assassínio e motivo de opróbrio para seus autores. Os tempos são outros, os motivos os mesmos, daí a validade da advertência do adivinho, quando César ia ao Senado.
