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Vitória de Trump já sacode rumos da economia global

Emanuel Pessoa*
Publicado em 07/11/2024 às 19:00.

O republicano Donald Trump será o próximo presidente dos Estados Unidos após conquistar mais de 270 delegados no Colégio Eleitoral, garantindo votos suficientes para um novo mandato. Embora a apuração ocorra de forma independente em cada estado e possa se estender por semanas, as projeções já antecipam o resultado. Este segundo mandato, que se inicia após um hiato de quatro anos desde a última presidência de Trump, promete trazer uma mudança em relação ao que os americanos estão acostumados em termos de segundo mandato.

Em geral, quando um presidente americano tem dois mandatos, ele dedica mais energia no primeiro a questões internas, ao passo que, no segundo, costuma focar no cenário internacional. Com Trump, a situação deverá ser diferente. Como seu segundo mandato não será consecutivo, além de sua plataforma ter sido centrada fortemente na economia dos EUA e controle da inflação, o Republicano não tende a seguir essa lógica.

No cenário doméstico, espera-se a adoção de tarifas para dificultar a importação de produtos industriais, especialmente da China, com o objetivo de incentivar o retorno de indústrias americanas ao país. A medida também visa pressionar empresas estrangeiras interessadas em acessar o mais importante mercado consumidor do mundo a instalarem fábricas nos EUA.

O chamado “Efeito Trump” foi um dos primeiros impactos econômicos da vitória Republicana: os juros futuros nos EUA subiram expressivamente, levando o dólar a disparar frente a outras moedas no mundo todo. No Brasil, logo pela manhã, o dólar registrava alta de 1,64%, cotado a R$ 5,84. Além da possível intensificação da guerra comercial com a China, já que Trump prioriza a produção interna em detrimento das importações, isso poderá afetar as exportações brasileiras, dado que os Estados Unidos são o segundo maior destino dos produtos nacionais.

Igualmente, Trump poderá incentivar ainda mais a produção de petróleo, xisto e gás natural, reforçando a independência energética dos EUA e disponibilizando energia mais barata para os aliados, reduzindo a dependência do Oriente Médio e da Rússia.

No plano internacional, deverá pressionar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a negociar com a Rússia, possivelmente com concessões territoriais. Em relação a Israel, embora mantenha uma forte aliança com Benjamin Netanyahu, ele também cultiva boas relações com líderes árabes, podendo buscar a retomada dos Acordos de Abraão. Com a vitória no voto popular, essa trajetória poderá, ainda, abrir caminho para que Trump busque o Nobel da Paz.

Algo diferente do que se poderia esperar de um governo americano deverá ser a nomeação de Robert Kennedy para algum cargo relacionado à saúde, no qual terá carta branca para melhorar os padrões alimentares norte-americanos, reduzindo a utilização de substâncias e aditivos que, em geral, são proibidos na Europa e no Brasil, e que contribuem para o elevado gasto com saúde nos EUA.

Livre da pressão por reeleição, Trump poderá se dedicar a deixar um legado que marcaria seu nome positivamente na História depois de campanhas e um mandato conturbados.

*Advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University

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