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artigo

Uma cidade

Alexandre Fonseca*
Publicado em 02/07/2025 às 19:00.

Cheguei a Montes Claros em fevereiro de 2012 — o ano do fim do mundo. E, para mim, foi mesmo. Deixei para trás o distrito, a vida pacata, quase rural, em que os dias se contavam pelo canto do galo e pelo cheiro de café coado. Vim encontrar o barulho dos motores, a pressa das ruas largas, o desafio de aprender a viver por conta própria. Enfrentar o trânsito, descobrir como pegar ônibus sem errar o ponto, saber qual linha leva pra onde, fazer compras, cozinhar, administrar saudade, silêncio e medo. Foi o fim de um mundo. E o começo de outro.

Seguindo uma trilha de tijolos amarelos — feitos do barro quente e poeirento do sertão — encontrei Montes Claros, a Princesinha do Norte. Uma cidade que me assustou à primeira vista e que, aos poucos, fui aprendendo a chamar de lar. Percebi, no instante em que fechei a porta da casa dos meus pais, que algo em mim havia se rompido. E que, nesse rompimento, nascia outra versão de mim mesmo.

Para quem chega de fora, assim como eu, Montes Claros é promessa. É chão fértil, possibilidade, sonho atravessado pelo calor. Tal qual na carta do descobrimento, aqui também se poderia dizer: “em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”. E me dei. Foi aqui que, graças a uma bolsa do Prouni, cursei jornalismo no Centro Universitário Funorte. Foi aqui que li o mundo com outros olhos e aprendi, entre uma aula e outra, a ser gente. Com os amigos que ganhei, aprendi a ser humano. Rimos, choramos, militamos, escrevemos, nos perdemos e nos reencontramos. Montes Claros nos juntou.

Claro que não é uma cidade perfeita. Há desigualdades, há precariedades, há dores que se escondem atrás das fachadas históricas. Mas, ainda assim, é uma cidade que acolhe. Uma cidade pela qual lutamos, que moldamos à nossa maneira, tentando retribuir o que dela recebemos. Montes Claros é afeto e é esforço. É onde sonhamos com um futuro possível.

É debaixo de tuas asas, Princesinha do Norte, que vamos levando a vida. E, mesmo com todas as dificuldades, agradeço por ter sido aqui o lugar onde meu mundo acabou — para que eu, enfim, pudesse começar.
 
*Jornalista

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