Os excessos serão punidos porque estão próximos ao vício. Virtudes escravizantes podem ser vistas por esse ângulo também. Algumas pessoas são submissas à prática excessiva de princípios positivos como orar, exercitar-se e trabalhar, porém, quando essas atividades ultrapassam o umbral passam a fazer mal e não bem.

Há pessoas que falam em Deus de maneira exagerada, rezam e frequentam igrejas em tal quantidade que os demais setores de suas vidas ficam no deserto. São tão fanatizadas por suas crenças que querem impô-las aos demais. Dos oito bilhões de viventes na terra, 30% professam o Cristianismo, um marco que mudou a contagem dos anos no mundo ocidental, no entanto, entre os judeus e os chineses, as contas e as datas comemorativas são outras, indiferentes ao Natal. Caso a religiosidade de um cristão fosse formatada no oriente, suas crenças seriam outras, ou até mesmo nenhuma, como costumam declarar 16% da população mundial. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” é um ideal pacifista de tolerância e amor, que tem força para evitar guerras.

Os exercícios físicos trazem benefícios conhecidos desde quando o ser humano foi motorizado pela era industrial. Junto à motorização das ações humanas, veio a revolução industrial alimentícia com produtos de sabores mais intensos, coloridos, porções maiores, instituindo-se uma epidemia de obesidade. Então, veio a era de exercícios sem função utilitária na sobrevivência e sim na saúde e na estética. Surgiram academias de ginástica de todas as vertentes. Exercícios extremados causam estresse muscular e lesões. Para reduzir os erros surge o personal trainer. Umas profissões se vão e outras vêm. As modalidades de aparelhos, ginásticas criadas agora ou inspiradas no passado não se esgotam e, ao mesmo tempo em que ávidos praticantes aderem, outros se cansam e vão passando de uma coisa a outra como ginástica aeróbica, ginástica localizada, Step, rumba, Pilates, musculação, Yoga, jump, ginástica de alto impacto como crossfit, treinamento funcional, etc. Pessoas acabam por santificar suas atividades físicas e as coloc
am como deuses a serem adorados, havendo um visível exagero nesse praticar.

Para bem trabalhar é preciso madrugar, mas antes de a luz elétrica surgir se dormia com o ocaso e hoje muitos dormem depois da meia noite e acordam às seis horas. Quem não fez fortuna não é quem não teve força de vontade ou trabalhou pouco, foi quem não teve oportunidade ou não teve ousadia para aproveitar os melhores momentos. Trabalhar demais leva a fragilidades no corpo e na mente. O descanso e o lazer são fatores de saúde. Diante do workaholic surge a Síndrome de Burnout ou Esgotamento Profissional com estresse, fadiga física e mental causados pelo trabalho estafante sob forte pressão e responsabilidade. Aqueles senhores que se gabavam de estar há décadas sem férias, podem ter ganhado dinheiro, mas perderam o convívio e o amor das famílias. Depois dos anos passados, nada há a fazer com o prejuízo, nem mesmo lamentar, porque o arrependimento não compra tempo.

*Médica e escritora

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