Quando falamos em cidades inteligentes, geralmente pensamos em tecnologias complexas e em grandes investimentos em infraestrutura. No entanto, nem todas as soluções precisam ser caras, demoradas ou tecnicamente sofisticadas para terem um impacto significativo. Em minha opinião, algumas ações simples podem ser mais eficientes e rápidas, especialmente quando o objetivo é reduzir as emissões de carbono, melhorar a mobilidade urbana e, ao mesmo tempo, aumentar a qualidade de vida nas cidades. Um exemplo disso é o uso de redes de smart lockers para otimizar o fluxo de pacotes na chamada “última e primeira milha”.
Segundo os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o setor de transporte no Brasil, incluindo o transporte de bens, é uma fonte significativa de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Em 2019, o setor de energia, que engloba o transporte, foi responsável por cerca de 19% das emissões totais de GEE no país, o que corresponde a aproximadamente 439 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
O estudo mostra também que as emissões de GEE do transporte de cargas no Brasil são provenientes principalmente da queima de combustíveis fósseis, como diesel, gasolina e óleo combustível.
Enquanto muitos sugerem soluções como a troca das frotas de transporte por veículos elétricos ou o desenvolvimento de redes ferroviárias para o transporte de mercadorias, acredito que uma abordagem mais simples e, muitas vezes, mais eficaz é o uso de smart lockers na otimização da logística de bens.Eles são basicamente pontos de coleta automatizados onde os consumidores podem retirar pacotes de forma conveniente.
Ao invés de o entregador ir até a casa de cada pessoa, o que pode resultar em várias tentativas frustradas e viagens adicionais, as encomendas são centralizadas em um único local. Isso reduz o número de viagens, otimiza as rotas e, consequentemente, corta o uso de combustível e as emissões de CO2. Além disso, melhora o trânsito ao diminuir a quantidade de veículos de entrega circulando pelos centros urbanos.
Quando comparo essa alternativa com soluções mais complexas, como a substituição da frota de caminhões por veículos elétricos, vejo algumas vantagens claras. A troca por veículos elétricos, por exemplo, requer um investimento inicial muito alto, infraestrutura de recarga, e ainda enfrenta limitações tecnológicas como a capacidade das baterias. Já a implantação de smart lockers, por outro lado, é uma solução relativamente barata e rápida de ser implementada.
Além disso, a construção de ferrovias, outra opção frequentemente discutida, também é dispendiosa e de longo prazo. Ainda que seja uma solução sustentável, ela demanda anos de planejamento, regulamentação e construção. Já os smart lockers, com uma infraestrutura mais simples, poderiam ser implementados em questão de meses, trazendo benefícios quase imediatos em termos de redução do tráfego e das emissões. Já temos provas de que isso funciona em países como a Polônia, Inglaterra e Dinamarca e é hora de o Brasil seguir essa tendência, usando a tecnologia para fazer as cidades evoluírem de maneira prática e eficiente.
*CEO da Meu Locker, empresa de referência em soluções tecnológicas de hardware e software para logística de distribuição