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Se eu fosse homem, não precisaria escrever esse texto

Ana Carolina Gozzi*
Publicado em 20/03/2025 às 19:00.

O problema nunca foi a minha competência. Mas bastava entrar numa reunião para perceber que não era isso que estavam avaliando. Já vi olhares procurando outro alguém para falar em meu lugar, já ouvi comentários que resumiam minha presença a um detalhe estético. “Que elegante!”, diziam. Mas e a minha estratégia? E as decisões que tomei para a empresa chegar até aqui?

Não foi a única vez. Não será a última.

Mulheres aprendem cedo que precisam compensar. Ser mais duras, falar mais firme, estudar mais do que todo mundo – porque um erro nosso, pesa mais. Eu mesma já fui essa mulher. Durante muito tempo, me moldei ao que esperavam de uma liderança: menos vulnerável, mais assertiva, cortante quando necessário. Mas em algum momento percebi que, ao tentar ser levada a sério, eu estava me distanciando de mim mesma.

Liderança não deveria ter gênero, mas tem. Não na teoria, mas nos olhares que questionam, no silêncio que invalida, no elogio à roupa quando o mérito deveria ser da estratégia que executei. Não importa quantas reuniões eu tenha comandado, quantos projetos tenham passado por mim ou quantos resultados eu tenha entregue — ainda há quem procure pelo ‘cabeça branca’ da empresa, sem perceber que a liderança sempre esteve bem aqui, diante deles.

E o curioso é que nunca me preocupei tanto com isso quando comecei. Eu só queria trabalhar, construir algo. Foi o mercado que me ensinou a pensar na postura, na roupa, no tom de voz, nas palavras que não poderiam ser “emocionais demais”. Foi o mercado que me ensinou que, para ser respeitada, eu precisava parecer mais dura do que realmente sou.

Levei anos para entender que ser líder não é um molde a ser preenchido. Que eu não preciso escolher entre ser respeitada e ser autêntica. Que força não está na dureza, mas na vulnerabilidade.

O problema é que essa consciência não muda os olhares. Ainda sou a jovem mulher na mesa. Ainda preciso provar o que, para muitos, já seria óbvio. Ainda preciso escolher as palavras com mais cuidado do que meus colegas homens.

Mas já não me importa tanto.

Porque, no fim, sei que o trabalho fala mais alto. Sei que estou onde deveria estar. Sei que sou líder porque sou boa no que faço – e não apesar de ser mulher.

A pergunta é: quando o mercado vai perceber isso também?

*Co-CEO do Compre & Alugue Agora e fundadora da Artêmia Co. Advogada pela FAAP, especializou-se em Marketing Digital, Branding e Gestão de Pessoas, com pós-graduações em Diversidade & Inclusão e Direito da Mulher. Liderança jovem da Geração Z, impulsiona inovação no mercado imobiliário e na publicidade, unindo estratégia, criatividade e um olhar humanizado para transformar negócios.

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