O cinema vive uma das suas fases mais estéreis em criatividade e impacto social. Não é por falta de orçamento, tecnologia ou acesso ao público. A crise é de enredo. E mais do que isso: de coragem artística. Nos bastidores, o que se comenta com cada vez menos disfarce é que a chamada agenda Woke, amplamente difundida por diretrizes alinhadas a organismos como a ONU, tem moldado – ou melhor, engessado – o que se pode ou não contar nas telonas.
Nos últimos anos, a sétima arte trocou o risco artístico pela cartilha ideológica. A busca por narrativas instigantes, com camadas humanas profundas e dilemas sociais autênticos, foi substituída por uma preocupação quase burocrática com diversidade, representatividade e inclusão – não como elementos orgânicos da história, mas como regras impostas de fora para dentro.
É verdade que o cinema, como qualquer expressão cultural, deve refletir seu tempo e buscar inclusão. Mas quando essa missão vira um checklist, quando roteiristas precisam escrever pensando em cumprir cota de temas e personagens “corretos”, a arte perde sua espontaneidade e profundidade. A indústria passou a se censurar preventivamente, com medo de ofender setores que se dizem representantes do “novo mundo”.
O resultado? Histórias sem alma, personagens genéricos, discursos panfletários e uma crescente perda de conexão com o público real – aquele que vai ao cinema não para ver propaganda disfarçada de roteiro, mas para se emocionar, refletir, sair diferente do que entrou.
Essa tendência sufoca, especialmente, filmes de engajamento social, que antes eram campo fértil para críticas profundas e reflexões poderosas. Hoje, tudo precisa estar de acordo com a régua ideológica: causas específicas devem ser destacadas, certos antagonistas não podem existir, e protagonistas precisam seguir perfis politicamente definidos. A arte virou protocolo.
Pior: até a escolha dos atores vem sendo pautada mais por critérios identitários do que por talento e adequação ao papel. O resultado é um distanciamento estético e emocional que o público nota – e rejeita. Os próprios dados de bilheteria mostram que muitos filmes ditos “politicamente corretos” são, na verdade, comercialmente desastrosos.
Não se trata aqui de ser contra a diversidade ou as causas sociais legítimas. Mas sim contra uma uniformização forçada da narrativa, ditada por diretrizes globais que parecem ter mais interesse em moldar consciências do que contar boas histórias. A arte, quando cerceada, vira ferramenta de doutrinação – e o cinema não nasceu para isso.
Hollywood e outras grandes indústrias cinematográficas precisam urgentemente repensar sua rota. O público quer histórias autênticas, personagens críveis, conflitos reais. Não quer ser educado por cartilhas, mas transformado pela emoção e pela reflexão.
A verdade da condição humana, com todas as suas contradições, sem filtros ideológicos precisa ser real. Não podemos, e não devemos apoiar esta prática. A meritocracia ainda é a melhor opção. Seguimos esperando por filmes que nos façam pensar – e não apenas obedecer.
*Jornalista/Radialista/Filósofo