“A palavra é uma bala ... não tem recuo” ... provérbio de Milepa.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento ... usando como meio de transporte excelentes livros premiados.
Eles me levaram para a Ilha de Moçambique no ano de 1569 ... onde fui recebido por Luís Vaz de Camões, autor do clássico “Os Lusíadas”, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
-Nunca tenha medo de errar ... na biologia o erro é entendido como um motor da evolução ... se não houvesse mutação a vida não vingava ... ter medo de errar é errado ... é do erro que nascem os grandes sucessos.
Camões citou essa frase que ele leu ... gostou e copiou de um escritor e biólogo ali mesmo de Moçambique e que ... descobriu depois de uma rápida viagem ao futuro ... 456 anos depois dessa conversa imaginária.
Falava de Mia Couto ... o autor do livraço “A Cegueira Do Rio” que acabo de ler e recomendo.
Experimente lê-lo degustando uma taça de vinho tinto do Porto harmonizado com uma fatia grossa de melão salpicado por algumas gotas de limão.
É um livro com potencial de obra prima ... muito útil e relevante para os dias atuais ... ameaçados pela sombra da volta de eventos tenebrosos como epidemias e guerras sem sentido.
Mia tem a habilidade de transformar prosa em poesia e de despertar prazer estético e admiração pela riqueza das palavras.
Em sua obra ... ele resgata ... entre relatos verídicos e fatos gerados pela sua fértil imaginação ... parte da história do seu país no início da 1a. Guerra Mundial ... exatamente ao norte de Moçambique ... na região próxima à Tanzânia ... antiga África Oriental.
Narra como a escrita se transformou em símbolo de poder e de manipulação de populações inteiras, inclusive dos povos africanos pelos europeus.
Naquela época ... uma epidemia causou a perda da faculdade de usar escrita pelos povos brancos (alemães e portugueses) ... através de uma doença contagiosa provocada pela picada de uma mosca negra que habitava as regiões ribeirinhas ... ao longo dos rios com correnteza rápida.
A escrita simplesmente desapareceu do lado norte e branco do mapa e os únicos capazes de usá-la foram os os africanos do lado sul do mundo.
Mia Couto costura fatos ocorridos com sua criatividade literária para demonstrar como o mundo pode se comportar diante do deslocamento do poder e para nos lembrar que o futuro já pode estar escrito no passado.
*Palestrante ... consultor e fundador do Blog do Maluco.