Ler é sempre ler, certo? Não exatamente.
Os estudantes que desejam aprender sobre a era paleozoica, mergulhar nos clássicos da literatura brasileira ou apenas se debruçar em uma boa história têm muitas opções: livros tradicionais de papel, e-readers, livros de áudio, tablets, telas de computador, celulares ou relógios inteligentes. No entanto, quando se trata de aprendizado, todos esses meios são iguais? Quais são os melhores para a compreensão quando se trata de estudantes do ensino fundamental?
Nos últimos anos, a tecnologia ganhou um grande impulso nas escolas – uma mudança que muitos educadores preveem que será permanente. Porém, tanto a pandemia quanto a ciência já evidenciaram que a total digitalização na educação é um erro. Estudos mostram que quando o texto tem mais de 500 palavras, os leitores geralmente têm melhor desempenho em testes de compreensão com livros impressos. A superioridade de materiais impressos fica ainda mais clara quando esses testes vão além das perguntas com respostas superficiais para aquelas cujas respostas exigem conclusões, detalhes sobre o texto ou a lembrança de quando e onde ocorreu um evento em uma história.
Pesquisadores na Espanha e em Israel, por exemplo, examinaram de perto 54 estudos comparando leitura digital e impressa, envolvendo mais de 171 mil leitores. Eles descobriram que a compreensão era melhor em geral quando as pessoas liam textos impressos em vez de textos digitais. Os resultados foram publicados pela Educational Research Review.
Estudos de metalinguagem também revelam que ler nas telas tem um efeito negativo na compreensão em comparação com ler o texto em uma página de papel. Os leitores de livros impressos também mostram um senso mais preciso de sua própria compreensão, enquanto aqueles que leram digitalmente pensaram que entenderam o texto melhor do que realmente entenderam.
Grande parte da leitura que os alunos fazem nas telas requer apenas atenção superficial, como ler um tweet ou uma legenda do Instagram. A leitura de textos complexos nas telas é mais desafiadora porque os leitores prestam pouca atenção a qualquer coisa lida digitalmente, mesmo que exija mais foco. É importante ressaltar que o excesso de telas traz danos perigosos à saúde mental das crianças e adolescentes, o que já foi comprovado pela ciência, como aumento do déficit de atenção, hiperatividade, ansiedade, distúrbios do sono e depressão. Por isso, países desenvolvidos, como Suécia, Holanda e Dinamarca, por exemplo, já comprovaram cientificamente que digitalizar 100% dos livros não é eficiente para o aprendizado.
Enquanto isso, no Brasil, depois de assegurar que usaria apenas materiais didáticos digitais nas escolas públicas, descartando os livros do MEC com seus conteúdos ideológicos, o governo de São Paulo voltou atrás e garantiu que o conteúdo também será impresso e entregue aos alunos da rede estadual, seja pela própria escola ou pela secretaria de educação. Foi, sem dúvida, uma decisão acertada, já que o livro escolar impresso é, comprovadamente, a maneira mais eficaz para o aluno aprender e reter o conhecimento a longo prazo.
*Fundadora do Escolas Abertas, movimento da sociedade civil que tem a melhoria da educação pública no Brasil como sua causa.