*Artigo escrito no último sábado (13) dois dias antes do falecimento da Patty
Existem profissionais que se destacam pelo talento. E existem pessoas que se tornam inesquecíveis pela forma como impactam quem está ao redor. Patrícia é a união rara dessas duas forças. Lembro-me que, há pouco mais de vinte anos, comecei ao lado dela a escrever a história de um sonho pessoal: criar uma revista de qualidade em Montes Claros, de alto padrão gráfico. Achei em Patrícia, naquele momento, tudo que precisava para levar meu sonho à frente. Juntamo-nos empolgados, até visionários, e fomos à luta. Uma luta árdua, tão árdua que tínhamos receio de bater de frente com o fracasso.
Mas, ambos tínhamos coisas em comum: a cara e a coragem. E sem dinheiro para fazer sequer um coquetel de lançamento da Revista TEMPO, ousamos em busca de repercussão e fizemos a edição de número 1 com uma entrevista corajosa com a travesti Natasha, que contava suas histórias de vida, de amores e de sexo com figuras ilustres de Montes Claros. Não publicamos detalhes e nomes, óbvio. Mas, a repercussão do lançamento da revista foi imediata, todos os exemplares que chegaram às bancas de Montes Claros e de cidades vizinhas foram vendidos. Nascia ali, com um sucesso além do esperado, a nossa Revista TEMPO. Eu e Patrícia juntos, sozinhos, transformando em realidade um sonho antigo.
Por tudo isso, e por gratidão principalmente, hoje torna-se fácil escrever essas linhas em homenagem a essa mulher guerreira e trabalhadora. Existem profissionais brilhantes. Existem pessoas extraordinárias. E, raramente, encontramos alguém que reúna essas duas qualidades de forma tão natural quanto ela. Patrícia é exatamente assim. Deixa marcas profundas por onde passa. Não apenas pelos projetos que assina com seu esforço e seu trabalho, mas pela forma como enxerga o mundo e conecta pessoas, ideias e sentimentos.
Não é uma profissional acadêmica, mas sempre a vi, no trabalho, como uma publicitária por essência, ao meu lado ela sempre demonstrou – como Diretora Comercial da TEMPO – que comunicar vai muito além de vender anúncios ou marcas. Patrícia não redigia reportagens, mas ajudou-me de forma excepcional a escrever a história da Revista TEMPO. Foi no suor de ambos, no empenho recíproco, que a TEMPO nasceu, cresceu e fez história. Com o apoio – não podemos nos esquecer! - de outros profissionais e amigos que colaboraram conosco naquele início de trabalho, como Márcio Leite, Jorge Silveira, Felipe Gabrich, Georgino Júnior, Theodomiro Paulino, Oswaldo Antunes, Felicidade Tupinambá, Cléber Caldeira, entre muitos outros.
Homenagear Patrícia Silva é reconhecer não apenas uma grande publicitária, mas uma mulher que construiu relações sólidas, carreiras mais leves e caminhos mais criativos por onde passou; nas equipes que ajudou a formar na Redação da revista e, principalmente, nas pessoas que têm o privilégio de caminhar ao seu lado.
Mas, o que realmente diferencia Patrícia em sua caminhada é o modo como ela exerce até hoje sua profissão: com ética, generosidade e humanidade. Lembro-me de que, nas reuniões de pautas com repórteres, ela fazia questão de participar e ajudava a transformar nossas reuniões em espaços de troca, desafios em oportunidades e trabalho em propósito.
Como amiga, ela é ainda maior. É apoio nos dias difíceis, riso nos dias leves e verdade em todos eles. Por muito tempo convivemos no dia a dia juntos, trabalhando para construir pontes, mesmo quando o mundo parecia barulhento demais. Hoje trago essa amizade com carinho no coração. Hoje estamos afastados por vieses da própria vida, mas acompanho de longe a trajetória dessa mulher que sempre se mostrou lutadora. E que, atualmente, ainda veste com orgulho a capa de guerreira.
Vá em frente, Patrícia, como sempre fez, sem nunca desistir!