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Sexta-Feira,30 de Maio
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Ouçamos a voz do Papa Francisco

Fernando Daymon*
Publicado em 22/04/2025 às 19:00.

Hoje, o calendário amanheceu carregado de significados. O 21 de abril, que já era memória viva da coragem e do sacrifício, tornou-se ainda mais denso. Já era o dia de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes — o dente arrancado da boca do Brasil colonial, símbolo de uma liberdade sonhada a duras penas. Era também o dia de Tancredo Neves, mineiro como Tiradentes, tecelão de palavras e esperança num país que ansiava por democracia. Agora, junta-se a esse cortejo o Papa Francisco — e o mundo inteiro silencia. Todos, à sua maneira, foram faróis em meio à escuridão.

Francisco, o Papa que trocou os palácios por albergues, que escolheu o nome de um santo pobre para guiar os ricos da Terra, deixa este mundo no mesmo dia em que o Brasil já cultuava mártires da justiça e da democracia. Coincidência? Talvez. Mas há coincidências que parecem mais recados do que acaso.

Ouçamos a voz do Papa Francisco. Não porque ele tenha sido perfeito, pois ele próprio nunca se pôs nesse lugar, mas porque foi humano até o fim. Ouvi-lo era ser lembrado do essencial: da dignidade dos pobres, da urgência de cuidar da Terra, da necessidade de construir pontes onde o mundo só insiste em erguer muros.

Ele incomodava — e talvez isso seja o maior elogio que se possa fazer a um líder espiritual. Ele não agradava a todos, mas obrigava todos a pensar. Criticava o mercado que descarta vidas. Alertava para uma fé que vira ritual vazio. Desafiava os religiosos a saírem de seus castelos de certezas e caminharem com o povo.

Hoje, seu corpo silencia, mas suas palavras continuam batendo nas janelas do nosso tempo. E é como se esse 21 de abril se tornasse ainda mais sagrado — um triunvirato de vozes que, em tempos distintos, disseram o mesmo: há sempre um outro caminho. Um mais justo. Um mais humano.

Agora, sua ausência pesa, mas sua voz permanece, ecoando não só nas paredes do Vaticano, mas nas memórias dos que ousaram ouvi-la com o coração aberto. Francisco não falava só aos católicos. Ele falava aos humanos.

E sua voz ecoou longe: cruzou fronteiras, atravessou desertos e oceanos, entrou em vielas esquecidas, subiu morros e desceu às periferias. Chegou aos lugares mais remotos, onde poucos costumam olhar — mas onde ele sempre fez questão de enxergar, tocando consciências, despertando compaixão e reacendendo a esperança.
 
*Consultor de Política, Estratégia, Representatividade e Transformação.

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