A Seleção Brasileira não é de um partido. Não é de uma ideologia. Ela é do povo. Do menino que chuta a bola descalço no chão batido, da senhora que pendura a camisa amarela na janela antes de cada Copa, do comerciante que fecha as portas para ver o jogo com a televisão na calçada. É da criança, do idoso, do trabalhador. É do Brasil.
No exato momento em que o país tenta resgatar a confiança em suas instituições, sua democracia e sua identidade cultural, mexer com o maior símbolo de união nacional — o uniforme da Seleção — é brincar com fogo.
O artigo 26 do estatuto da própria Confederação Brasileira de Futebol determina que os uniformes da Seleção devem ter as cores da instituição: verde, amarelo, azul e branco. Nada mais. Nada menos. Isso foi decidido não por capricho, mas por coerência histórica e identidade nacional. A camisa canarinho não é uma invenção de marketing. Ela é memória. É Pelé, é Romário, é Marta, é Ronaldo, é Formiga. É título, é lágrima, é festa no coreto.
No campo, o futebol é coletivo. Mas fora dele, ele também é símbolo. Quando o Brasil entra em campo, não entra como uma sigla ou facção. Entra como uma nação — e a camisa é a bandeira que vestimos no peito.
A Seleção Brasileira é o último reduto do povo brasileiro que ainda guarda alguma inocência, alguma pureza simbólica. É o manto que veste o filho do pedreiro e a neta da professora. É a mesma camisa que cobre a emoção de quem está no Maracanã ou na roça, na avenida ou no sertão. É nosso estandarte. É o Brasil que deu certo — ao menos no imaginário.
E o que faz a CBF? Vem com essa ideia de lançar um uniforme vermelho, como se não bastassem as crises dentro de campo, fora de campo, na política, na economia, na saúde, na educação, no futebol de base, na arbitragem...
Não se trata de rejeitar uma cor. O azul, por exemplo, embora não seja o favorito do torcedor, foi adotado com sobriedade, por necessidade, e respeita os princípios que fazem parte da história do nosso futebol. Mas o vermelho? Quando até o mais desatento sabe o quanto essa cor — e o uso dela em contextos políticos — tem inflamado ânimos e dividido corações?
Futebol é emoção, mas também precisa ser prudência. E a CBF tem a responsabilidade de preservar o que o futebol representa: alegria, união, esperança. A camisa amarela da Seleção já enfrentou muitos momentos difíceis e, mesmo assim, sobreviveu como um manto sagrado. Não se pode permitir que ela vire campo de batalha ideológica.
O mundo ama o Brasil. Ama nosso gingado, nosso estilo único, nossa camisa amarela que brilha mesmo em dias nublados. Alterar isso por marketing, provocação ou tentativa de “modernização” à custa de identidade é um erro. O mundo inteiro reconhece a Seleção Brasileira por causa da camisa amarela. Ela virou sinônimo de Brasil. A amarelinha é marca registrada da nossa história — cinco vezes campeã do mundo. É como se a Argentina abrisse mão do branco e azul, a Alemanha do preto e branco, ou a Itália do azul celeste.
Que a Seleção siga sendo de todos — com as cores que nos definem. E que o verde e amarelo continue tremulando, não como símbolo de divisão, mas como manto de um país inteiro. A CBF precisa parar de inventar e voltar a respeitar o básico: o futebol é do povo. E a camisa da Seleção é símbolo sagrado. Mexer nisso não é só uma escolha estética — é mexer com a alma do brasileiro.
*Jornalista/Radialista/Filósofo