Se tem uma coisa que sempre gera discussão no Brasil, é o tal do salário. Parece que o país não se cansa de tentar acertar a equação entre o que as empresas estão dispostas a pagar e o que o trabalhador realmente merece. E se você, caro leitor, pensou que 2025 seria o ano em que todos os problemas de remuneração no Brasil seriam resolvidos, pode ir tirando o cavalinho da chuva.
O estudo da Michael Page, aquele famoso guia salarial, traz algumas boas notícias e outras nem tanto. Parece que a retomada econômica – ou seria a recuperação do que foi perdido ao longo dos últimos anos? – finalmente está influenciando as empresas a olhar para os seus funcionários com um pouco mais de carinho no bolso. De acordo com a pesquisa, 38,4% das empresas planejam aumento real para 2025. O que é um aumento real, você me pergunta? Ah, simples: é aquele que não é engolido pela inflação. Parece pouco? Sim, parece, mas é um avanço.
Entre as que vão aumentar os salários, a maior parte das empresas vai ficar ali na faixa dos 5% a 6% de aumento (22,8%). Para quem está acostumado a receber correção de 1,5% ou 2% ao ano, já dá para sonhar um pouco, não é mesmo? Claro, tem quem vai pagar um pouco mais, como aquelas que prometem até 9% a 10% de aumento. O problema é que 30,4% das empresas ainda não sabem se vão dar aumento algum e outras 30% não querem nem saber dessa história de aumento. Não querem ou não podem?
Agora, se o aumento salarial para quem já está na empresa não é lá grandes coisas, a situação para os novos contratados é bem diferente. A pesquisa aponta que 33,3% das empresas pretendem oferecer aumentos de 6% a 10% para quem está chegando. Isso, claro, se você tiver alguma habilidade ou conhecimento estratégico para a empresa, caso contrário, seu salário vai ficar ali na base do 1% a 5%.
O que me chama atenção é o discurso repetido de que as empresas precisam “manter uma estratégia robusta de remuneração” para atrair talentos. Uma verdadeira aula de corporate speak. Em outras palavras, elas estão dispostas a pagar um pouco mais, mas para quem faz a diferença. E, claro, se você for só mais um na multidão, provavelmente, seu salário vai ser o mínimo possível.
A pergunta é: o que vai mudar de fato? O aumento salarial está sendo visto como uma ferramenta para a retenção de talentos, mas será que vai ser o suficiente para tapar os buracos da insatisfação geral do mercado de trabalho? Isso, meus amigos, é uma história para se acompanhar de perto, porque no Brasil, até o aumento de salário é negociado em cima da corda bamba.
*Jornalista/Radialista/Filósofo