Entre os clarões festivos que pintam o céu da virada, há um enigma sutil que se desenha nas entrelinhas da celebração. Mais do que o esplendor de pratos meticulosamente ornamentados na mesa da passagem, mais do que o espetáculo efêmero dos fogos que dançam entre as estrelas, existe um anseio entranhado na alma do ano novo.
Neste mistério de aparecer e encantar, o povo sussurra desejos silenciosos, desviando o olhar da ostentação efêmera para os anseios eternos que não se cumprem no ano que se inicia. Não é apenas a estética do banquete, mas a substância que preenche os vazios do estômago e da alma. Entre o tilintar das taças, ecoa o pedido por alimento genuíno, por uma fartura que transcende o prazer dos sentidos e toca a essência da sobrevivência. Quantos cidadãos não terão o que comer na noite da virada e, o quanto se desperdiçou em milhares de lares na noite de Natal?
A verdadeira magia não se revela apenas no calor fugaz dos fogos, mas naquela chama que acende os corações humanos e transborda de essência por amor ao próximo. É um chamado por um calor que não se mede em graus Celsius, mas em gestos de compaixão e em palavras que aquecem como abraços. O povo almeja um aquecimento que derreta as barreiras da indiferença, um calor que derrote o frio do egoísmo que muitas vezes permeia nossas interações cotidianas.
Enquanto os ponteiros do relógio avançam e o calendário se reinicia com um dia a mais em 2024, a mensagem subjacente é clara: o verdadeiro brilho do novo ano não reside na pompa efêmera, mas na substância duradoura. Mais amor, menos egoísmo. Este é o enigma que permeia os suspiros de meia-noite, um convite para decifrar o código da verdadeira celebração, onde o alimento no prato e o aquecimento nos corações transcendem as festividades para se tornarem pilares de uma sociedade mais compassiva e humana.
Que mais do que contar os dias, possamos fazer cada dia acrescentar, construindo um caminho onde a essência da celebração resplandeça como uma estrela, iluminando o firmamento de nossas vidas com a luz eterna da compaixão e do entendimento mútuo.
*Jornalista/Radialista/Filósofo