Artigo

O que a saúde periodontal tem a ver com o Alzheimer

* Jamil Shibli
Publicado em 25/06/2025 às 05:16.

Pouca gente sabe, mas uma simples gengivite pode ter impactos muito além da cavidade oral. Estudos recentes vêm demonstrando uma conexão importante e preocupante entre doenças periodontais e distúrbios neurológicos, como o Alzheimer. E embora ainda estejamos distantes de afirmar que uma causa a outra, a ciência já aponta que manter a boca saudável pode ajudar a proteger também o cérebro.

A doença periodontal é uma inflamação crônica causada por um grupo específico de bactérias presentes naturalmente na boca. Quando não tratada, ela pode levar à perda dos dentes, dor e sangramentos, mas o problema não termina aí. Já sabemos, há algum tempo, que ela está relacionada a condições como diabetes, doenças cardiovasculares e partos prematuros. Agora, a conexão com doenças neurodegenerativas ganha força na literatura médica.

Pesquisas publicadas desde 2021 identificaram a presença da Porphyromonas gingivalis, a principal bactéria associada à periodontite, em regiões do cérebro de pacientes com Alzheimer. O que se estuda, agora, é como essa bactéria poderia “viajar” da boca até o cérebro e contribuir para o processo inflamatório que acelera a degeneração neural.

É importante esclarecer: a doença periodontal não é causa direta do Alzheimer. A demência de origem neurodegenerativa tem múltiplos fatores de risco, como predisposição genética, resistência à insulina, obesidade, sedentarismo e idade avançada. No entanto, o quadro inflamatório gerado por uma infecção crônica na gengiva pode atuar como um fator agravante da progressão da doença. Em outras palavras, pode ser o gatilho que acelera um processo que já estaria em curso.

Essa ligação reforça uma mensagem essencial: saúde oral é saúde sistêmica. Não é apenas sobre dentes bonitos ou hálito fresco. É sobre qualidade de vida, prevenção e longevidade. A negligência com a boca cobra um preço alto em outras partes do corpo. Manter uma rotina de escovação adequada, visitar regularmente o dentista e tratar doenças periodontais com seriedade é investir na saúde como um todo.

A longevidade da população exige que repensemos a forma como integramos diferentes áreas da medicina. Precisamos romper a visão fragmentada entre o “bucal” e o “sistêmico”, e isso passa por incluir a odontologia de forma mais ativa em políticas públicas de saúde e estratégias de prevenção em todas as faixas etárias, especialmente entre idosos e grupos de risco. Se a saúde começa pela boca, está na hora de olharmos para ela com a importância que merece.

*Professor responsável pelos programas de mestrado e doutorado em Implantodontia da Universidade Guarulhos (UNG) e professor associado da Harvard School of Dental Medicine, professor visitante da Universidade de Leuven (Bélgica) e docente da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. 

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