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O Brasil subiu no IDH... e tropeçou na realidade

Gregório José*
Publicado em 09/05/2025 às 19:00.

Acaba de sair o novo Índice de Desenvolvimento Humano — o famoso IDH — e o Brasil, veja você, subiu. Está agora na gloriosa posição de número 89 no ranking mundial. Um avanço de três casas! Ganhamos da Venezuela, da Bolívia e de nós mesmos no ano passado. Haja coração!

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, nosso IDH pulou de 0,754 para 0,760. Parece pouco, mas aqui a gente comemora até empate contra a Suazilândia. Teve gente no governo abrindo champanhe. Disseram que é o melhor número desde 2019. Sim, leitor amigo: depois de pandemia, inflação, crise política, climão nas redes sociais e ovo a R$ 2,50 a unidade, subimos meia dúzia de milésimos e já tem assessor atualizando o LinkedIn com “responsável por melhorar o IDH do Brasil”.

Agora, permita-me ser o chato de plantão: esse tal IDH é calculado com base em três coisinhas apenas — expectativa de vida, educação e renda. Três indicadores que, somados, dizem mais sobre os países do que as promessas de campanha. O problema é que, no Brasil, tudo isso é cheio de nuance. Expectativa de vida, por exemplo, está em 75 anos — a depender de onde você nasce, claro. Se for em bairro de classe média, você chega nos 80 fácil. Se for numa comunidade sem esgoto e com bala perdida como cortesia do dia, bem... é melhor não fazer planos a longo prazo.

Na educação, disseram que melhoramos um tiquinho. Talvez porque agora as crianças voltaram a frequentar a escola. Mas alguém perguntou o que elas estão aprendendo? Porque não adianta ter merenda, se não tem professor. Não adianta dar tablet se não tem internet. E não adianta decorar capital de país estrangeiro se o menino não sabe localizar o posto de saúde do próprio bairro.

Sobre a renda, subimos também. Com o aumento do salário mínimo, o povo ganhou alguns reais a mais. Claro que o arroz e o aluguel correram mais ainda. Mas isso é detalhe — como diria aquele deputado que achava que inflação era boato plantado por quitandeiro comunista.

Enquanto isso, países como a Argentina (sim, eles!) estão com IDH maior que o nosso. E Portugal? Ah, Portugal está lá no topo da tabela, rindo de nós com aquele sotaque charmoso e aposentando gente com qualidade de vida. A Noruega segue em primeiro, como sempre. Mas também, Noruega é covardia: frio, tudo organizado, todo mundo educado, o máximo de estresse que o cidadão tem é quando o trenó atrasa.

Voltando ao Brasil: o problema do IDH é que ele é uma média. E média, como a gente bem sabe, é uma estatística canalha. Se você comer dois frangos e eu nenhum, a ONU vai dizer que comemos um cada um. No papel, estamos nutridos; na vida real, eu estou com fome e você está arrotando. E o governo? Publica no Diário Oficial: “Todos alimentados, segue o baile”.

Então, meus amigos, o Brasil melhorou no IDH? Segundo os números, sim. Mas como dizia minha tia Carolina, “número aceita qualquer desaforo”. O que não aceita desaforo é a vida da dona Maria que acorda 4h30 da manhã, pega três ônibus, e ainda chega atrasada ao hospital onde falta médico, gaze e dignidade. Essa sim, precisa de desenvolvimento. Humano, de verdade.

Porque, convenhamos: de índice cheio de moral e país vazio de decência, o Brasil já está bem servido. 
 
*Jornalista/Radialista/Filósofo

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