Vamos supor que estejamos em uma mesa discutindo formas de dar continuidade às práticas ESG e propondo um capitalismo consciente. Qual o perfil de empresas e lideranças que precisamos que estejam sentadas nela? Talvez você me responda que precisamos apenas de pessoas que estão alinhadas a essas boas práticas há tempos, mesmo antes do termo ‘ESG’ sequer existir, lideranças de empresas que nunca tiveram práticas exploratórias ou minimamente questionáveis, que fazem parte do seleto grupo dos ‘certinhos’ que nunca erraram.
Porém, eu vou precisar discordar completamente.
Isso porque não existe mesa de discussão onde não se debatam erros. Seja enquanto pessoas físicas ou lideranças de empresas, todos nós cometemos erros, afinal somos humanos, e precisamos reconhecê-los para não cometê-los novamente. Precisamos que nesta mesa estejam sentadas pessoas que estão de fato dispostas a discutir, tendo como principal objetivo desmistificar conceitos antigos, sanar as inúmeras desigualdades da nossa sociedade e reconhecer os seus erros individuais e a sua participação em erros coletivos.
Esse vem sendo o propósito do Instituto Capitalismo Consciente em seus 10 anos de operação no Brasil: ser um lugar em que os líderes e as suas empresas vão para reconhecer, reaprender a pensar os negócios de forma que eles se sustentem sobre os pilares ambientais, sociais e de governança. Desde 2013 seguimos no propósito de contribuir e transformar a forma como se fazem negócios e investimentos no país, incentivando, inspirando e ajudando empreendedores e líderes a aplicarem os princípios do capitalismo consciente em suas organizações.
Mas para isso é preciso que esses líderes e empreendedores estejam dispostos a repensar suas atitudes, olhar para dentro da empresa, avaliar pontos positivos e negativos, observar o impacto que ela causa no Meio Ambiente, nas pessoas ao seu redor, nos seus colaboradores, fornecedores e em toda a cadeia de stakeholders que está direta ou indiretamente ligada a suas ações.
A empresa que chega no ICCB e deseja ser uma associada não pode ignorar os atos, por muitas vezes vergonhosos, que já cometeu ou que adotou uma postura conivente. Se não existe sequer a intenção de reconhecer tais erros, não há possibilidade de existir uma discussão, porque aqui nós vamos discutir sobre isso. Nós fomentamos práticas conscientes, contribuímos para uma real transformação naqueles que estão de fato dispostos, nós não somos o lugar dos certinhos que nunca erraram, somos um espaço de desconstrução até porque ninguém nasceu desconstruído, muito menos as empresas.
Então, se a sua empresa não consegue olhar para os erros do passado, encarar os seus problemas de frente, reconhecê-los e utilizá-los para acertar no futuro, não senta na mesa.
Mas esse não é nosso objetivo, por isso convidamos às lideranças que sejam humildes, mas arrojadas, vulneráveis mas poderosas, para que queiram embarcar nessa jornada da transformação, queremos que sua empresa se sente na mesa.
*Cofundador e Presidente do Instituto Capitalismo Consciente Brasil