Não! Não vou falar sobre etarismo.
Você já esqueceu a sua idade? Parece bobo, mas quero te convencer de que faz todo o sentido. Até hoje você se vê como aquela pessoa jovem e descolada, ou aquele adolescente tímido com poucos amigos, ou talvez aquela pessoa pau para toda obra, animada, de alguns anos atrás?
Se sim, parabéns: sua alma segue jovial. Se não, este texto foi escrito exatamente para você.
Porque mesmo casado, com filhos e responsabilidades, de vez em quando você se surpreende ao perceber que tem casa para cuidar, cachorro, gato, passarinho… ou plantas; várias delas que olham para você e te chamam de “pai” ou “mãe”.
Mesmo sabendo que o tempo passou, ensino médio, faculdade, pós, ainda existe dentro de você uma alma jovem aprendendo a viver um dia de cada vez.
Dos meus chiliques de 20 ou 30 anos atrás, mantenho, vez ou outra, o receio de um cachorro solto na rua ou o susto de uma lagartixa que surge desavisada. E claro, aquela playlist que mistura Taylor Swift, Britney Spears, Linkin Park, Paramore, Sandy e Jr. ou até os Menudos. Quem nunca? Quem vez ou outra? Quem sempre?
Às vezes é difícil enxergar que cruzamos tantas linhas de chegada.
Me lembro do dia em que conheci o meu departamento jurídico; é assim que chamo minhas amigas advogadas: Raquel, Dandara, Juliana e Zaira.
Estávamos na ExpoFavela: eu vendendo meus livros; Dandara palestrando, como sempre; Raquel movimentando um networking daqueles junto com Juliana; e Zaira representando as Black Sisters in Law.
No final daquele dia corrido, Raquel, já descalça, com as tranças boxbraids amarradas num coque alto, me pega pelo braço: “Bora, que a Juliana não tirou foto contigo!” E saiu me arrastando. Literalmente! Me senti como se estivesse nos corredores do Ensino Médio novamente. Deu saudade.
Tem dias em que bate aquela bad vibe, no estilo Lana Del Rey, Summertime Sadness, e tudo o que eu quero é colocar um filme repetido na TV, pegar um pacote de papa-ovo e ficar na minha: “sentado, bebendo (café), só isso!”, como disse Natália Deodato no BBB.
Mas a vida adulta não dá tempo. Você precisa aproveitar aquele momento porque ele vai passar. As lágrimas vão passar, o riso vai passar, os melhores e os piores momentos também vão passar. Nada é para sempre. As coisas estão, e estão só no aqui-agora.
Guimarães Rosa já ensinou que “a vida quer da gente é coragem.” Nem sempre é fácil tê-la quando precisamos enfrentar as “lagartixas” ou “errantes cachorros de rua” no trabalho, nos relacionamentos ou nas nossas emoções. Mas se não lembrarmos que em nossa alma temos a energia e vitalidade de um adolescente, não sairemos do lugar.
Este texto não é de autoajuda. Diria que é sobre autopercepção, autorreconhecimento, autoperdão e autocontrole. A questão nem é mais se temos ou não a idade certa para fazer determinadas coisas, mas sim como permanecemos fiéis a nós mesmos em cada momento, entregando-nos às oportunidades e enfrentando os desafios, sem apagar a chama da nossa juventude interior.
Doutor docDepartamento de Linguagens & Tecnologia Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Deltec/CEFET-MG
