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Inovação fora do hype

Rogério Tamassia*
Publicado em 14/01/2025 às 19:00.

Para manter a relevância e a sustentabilidade, é essencial que as empresas invistam constantemente em inovação, certo? Na teoria, a maioria dos executivos de grandes empresas concorda com essa afirmação e proclama que a inovação é uma prioridade para sua liderança. Na prática, no entanto, a história é um pouco diferente. Diante de sinais de crise, incerteza macroeconômica e pressões por resultados imediatos, os investimentos em inovação frequentemente saem de cena.

Segundo o estudo de 2023 “Technology Industry CEO Outlook”, conduzido pela KPMG, 86% dos CEOs na América do Sul afirmaram à época a intenção de realizar uma “estratégia agressiva de investimentos mirando inovação com foco em transformação digital”. No entanto, orçamentos de suas áreas de inovação em 2024 têm mostrado outra realidade: reestruturações de times, cortes de equipe e projetos cancelados ou adiados.

Mas esse desengajamento dos investimentos corporativos em inovação não pode ser colocado somente na conta da (não) prioridade estratégica efetiva dos CEOs. A inovação, que antes era o Santo Graal nas rodas corporativas, prometeu muito, entregou quase nada e acabou sendo substituída pela Inteligência Artificial como a bola da vez.

Então quer dizer que a “moda” da inovação nas empresas no Brasil passou? A moda passou, a necessidade de inovação, obviamente, não. E a partir desta perspectiva, o hype mais atrapalha do que ajuda a gerar resultado. Havia um certo frenesi para gerar, conhecer e experimentar boas ideias num ritmo acelerado que levou a uma saturação do mercado com soluções inéditas. O efeito perverso dessa corrida do ouro foi que as áreas de inovação das empresas priorizaram o vuco-vuco dos eventos, absortas em assistir aos pitches das próximas grandes novidades. 

A mudança de paradigma na inovação é que em um mercado cada vez mais saturado e competitivo, só ter boas ideias e testá-las já não é mais suficiente. Criar rankings de empresas “mais inovadoras” somente comparando a quantidade de validações realizadas parece que está aos poucos ficando para trás. No longo prazo, o que tem diferenciado as empresas que têm resultado efetivo com inovação das que cortam os investimentos é a capacidade de fazer as ideias, validações e provas de conceito serem efetivamente implementadas e ajustá-las conforme as mudanças nas demandas e expectativas dos consumidores. 

Estamos diante de uma nova onda de inovação nas empresas bem menos barulhenta. Agora o foco não está apenas no que uma inovação oferece, mas em como entrega, promove e sustenta os novos produtos ou serviços para alcançar relevância e permanência no mercado

Mas como mudar o foco? As empresas que têm conseguido avançar nessa jornada destacam que uma maior conexão com as estratégias das áreas de negócio para entender em profundidade as oportunidades e dores e priorizar o que tem mais probabilidade de gerar resultado ajuda, e muito, em avançar para as

implementações. Além disso, é imprescindível articular com as áreas que efetivamente implementam os projetos, como tecnologia da informação, para

garantir prioridade e engajamento nos projetos de inovação. Isto não é trivial, uma vez que as “filas” de TI normalmente estão sobrecarregadas. A busca por equipes externas para compor os squads dos projetos de inovação pode ser uma ótima alternativa para dar mais celeridade a esse processo.

Em conclusão, a perspectiva de que inovação não está mais na crista da onda das empresas brasileiras pode ser vista como um convite para reavaliar a abordagem tradicional de somente buscar validar boas ideias. Propor uma estratégia que prioriza a implementação e o “go to market” é a chave para resgatar a confiança e os investimentos.

*Cofundador da Liga Ventures

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