Impactos da guerra

Jarlon Nogueira*
10/05/2022 às 00:04.
Atualizado em 10/05/2022 às 10:05

Há apenas alguns meses, o mercado de logística e transportes esperava que o pior dos problemas da cadeia de suprimentos durante a pandemia tivesse acabado. E que alguma estabilidade pudesse ser restaurada em 2022. Só que, como diz o ditado popular: “Não há nada tão ruim que não pode ser piorado”. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, no entanto, o caos no supply chain global recomeçou. E desta vez entrelaçado com questões envolvendo segurança nacional, alianças políticas, sustentabilidade, mudança climática, nacionalismo, inflação e os limites da globalização.

Além de prejudicar os mercados de energia e as cadeias de suprimentos para tudo, desde trigo e fertilizantes até semicondutores e autopeças, outra grande questão está no petróleo. A Rússia é o segundo maior produtor mundial de petróleo bruto depois da Arábia Saudita e o maior exportador de gás natural. Depois da invasão à Ucrânia, a Rússia tirou cerca de três milhões de barris de petróleo por dia do abastecimento global, despejando gasolina em um incêndio que já tinha começado.

O barril do petróleo atingiu o preço recorde de US$ 133 no mercado internacional no início de março, 15% maior do que o registrado em fevereiro. Segundo o relatório Commodity Markets Outlook do Banco Mundial, o preço do petróleo bruto Brent deve atingir a média de US$ 100 por barril em 2022, nível mais alto desde 2013 e um aumento de mais de 40% em relação a 2021.

Os mercados de commodities estão passando por um dos maiores choques de oferta em décadas por causa da guerra. O relatório aponta que os preços de matérias-primas não energéticas, incluindo agricultura e metais, devem aumentar quase 20% em 2022. Só o trigo pode encarecer 40%, chegando a um preço histórico.

O Brasil produz, atualmente, 3 milhões de barris de petróleo por dia e a expectativa é a de crescer em 10% a produção neste ano. A demanda interna é muito maior e inclusive os Estados Unidos já nos procuraram para fortalecer a parceria de fornecimento. A questão é que, como o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse, “aumentar a produção não é como um interruptor que você pode ligar”.

A Petrobras disse que até tentou segurar. O ano de 2021 já foi difícil, com a inflação do diesel chegando a 46,04% pelos dados do IBGE por conta da série de aumento nas bombas do ano passado. E, em 2022, o primeiro grande aumento nas bombas aconteceu em março, com um acréscimo de 25% no preço do diesel. Em abril mais uma alta aconteceu, dessa vez de uma média de 5%.

Está cada vez mais difícil encher o tanque. E quanto mais longe das refinarias, maior o preço. Em fevereiro o frete foi reajustado em apenas 1,96%. Assim, para o caminhoneiro conseguir fechar a conta no azul, só mesmo se houvesse um milagre.

E em um país onde a malha rodoviária transporta cerca de 60% dos produtos, toda essa enxurrada de aumentos vira uma bola de neve que se reflete no preço do pão, do leite, do óleo de soja e de tudo mais que está na casa dos brasileiros. 

*CEO da AgregaLog

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