Querido Luis Fernando Veríssimo,
Hoje nos despedaça a confirmação de uma ausência tão abrupta quanto a revelação em “O Analista de Bagé”: risos que acalentavam nossos dias, personificados num gaúcho mordaz capaz de refletir — com fina ironia — a alma do povo. Seu humor afiado e afável foi bálsamo em tempos tensos.
Seu olhar transformou os pequenos absurdos da vida em crônicas que nos faziam lembrar que “quem quase vive já morreu” — e que, por isso mesmo, a vida precisa ser vivida com urgência, coragem e entrega real, jamais no marasmo. Suas palavras guardam verdade e leveza em frasquinhos de sabedoria: “Só acredito naquilo que posso tocar... Só acredito no que posso tocar.” E, ousadamente, você nos lembrava de que “a única pessoa livre, realmente livre, completamente livre, é a que não tem medo do ridículo.”
Ah, como nos encantava esse humor que brotava da vida cotidiana, pontuado por crônicas como “Incidente na casa do Ferreiro”, onde ditados populares se encontravam num manifesto teatral delirante — macacos cuidando de seus próprios rabos, o cego que “não quer ver”, e o mentiroso preso por uma corda invisível de ironia. Era o nosso mundo refletido com trejeitos de fábula, e nós ríamos, ríamos.
E como esquecer suas reflexões em “O Que nos Leva a Escolher uma Vida Morna?”. Ali, você desnuda a frieza dos sorrisos a distância, e nos desafia: “Gaste mais horas realizando do que sonhando, mais fazendo do que planejando, mais vivendo do que esperando.” Um chamado poderoso para que, mesmo diante das pequenas derrotas, a gente erre, tente, erre de novo — mas viva.
Obrigado, Veríssimo, por mostrar que “quem quase morre está vivo; quem quase vive já morreu.” Obrigado por nos fazer rir — e pensar. Obrigado por nos ensinar que a normalidade é, muitas vezes, um caos disfarçado, e que o amor, embora raro de acertar à primeira, sempre vale cada tentativa, cada abraço torto, cada verso vivido.
Você nos deixou, mas suas palavras continuarão presentes, radiantes como sempre foram — imortais na crônica, eternas no riso e no pensamento. E agora, mais do que nunca, seguimos com o coração apertado mas inspirado: porque o humor, esse dom seu maravilhoso, jamais se despedirá.
Até sempre, mestre.
*Jornalista/Radialista/Filósofo
Pós Graduado em Gestão Escolar
Pós Graduado em Ciências Políticas
Pós Graduado em Mediação e Conciliação
MBA em Gestão Pública