O mundo inteiro tem assistido, por meio de telas digitais, os bombardeios, gritos e o desespero de cidadãos no leste europeu, como notícias de famílias inteiras que foram alvejadas enquanto fugiam e até mesmo de soldados russos se rendendo sem resistência, inclusive um deles em lágrimas ao ligar para a mãe em uma imagem difundida países afora.
Conforme extensa literatura científica, além de gerar risco de morte e invalidez, os conflitos armados propiciam aumento expressivo de violência interpessoal, tais como agressões a mulheres e crianças, abuso de álcool e substâncias químicas, suicídio, homicídio, doenças infecciosas, xenofobia, e exploração sexual em campos de refugiados. O Unicef afirmou, em 2005, por exemplo, que grande parte das adolescentes que sobreviveram ao genocídio de 1994, em Ruanda, foram estupradas.
Mas é preciso abordar, também, os impactos psicológicos de uma guerra - tão nefastos que atingem até mesmo quem acompanha à distância devido à extrema tensão causada por sentimentos de medo, ansiedade e incerteza. As pessoas acabam falando sobre a guerra, se aproximando dessa realidade e, de certa forma, absorvendo a dor daqueles que sofrem diretamente com o conflito.
Apenas por manter pensamentos catastróficos, o cérebro é capaz de ativar o sistema de defesa. Diante do estresse, o organismo produz uma série de substâncias que permitem ao corpo responder de maneira ágil, como a adrenalina e o cortisol. Assim, o cérebro fica em estado de alerta e, o coração dispara sua frequência cardíaca, bem como o pulmão aumenta a frequência respiratória. Os efeitos dessas reações químicas constantes incluem ansiedade, depressão, distúrbios comportamentais e estresse pós-traumático.
Além disso, um estudo da Universidade Masaryk, na República Tcheca, de 2019, concluiu que além dos danos na saúde mental, uma guerra pode trazer consequências biológicas. Estudo da estrutura cerebral de sobreviventes do Holocausto encontrou redução expressiva da massa cinzenta dessas pessoas, gerando diferenças no processamento de emoção, cognição social e memória entre vítimas e não vítimas.
A saúde mental tem sido cada vez mais estudada, sendo necessário educar crianças, jovens e adultos sobre como buscar a estabilidade emocional, por meio do autoconhecimento (psicoterapia), relacionamentos saudáveis, equilíbrio entre razão e emoção, pensamento positivo, desenvolvimento da automotivação, além de boa alimentação, atividade física regular e cultivo de hobbies.
(*) Coronel PM QOS Tarcimara Moreira, médica e Diretora do Departamento de Saúde da Associação dos Oficiais da PM e do Corpo de Bombeiros