E não é que inventaram mais uma moda? Depois da geração Nutella, da demissão silenciosa, do burnout de gente com 25 anos e do coaching de gratidão, agora temos a “microaposentadoria”! Sim, querido leitor, é isso mesmo que você leu! A nova tendência entre os jovens profissionais não é trabalhar para se aposentar, mas se aposentar antes mesmo de trabalhar! Sensacional!
A lógica é simples: como a aposentadoria de verdade está cada vez mais distante – tipo um sonho de consumo impossível, igual casa própria e carro sem juros – a molecada resolveu picotar a velhice e enfiar miniaposentadorias ao longo da carreira. Ou seja, trabalha-se seis meses, tira-se um ano sabático, volta-se para o batente três meses, dá um burnout precoce e, pronto, mais seis meses de férias no Sudeste Asiático! Se antes a gente viajava depois de 40 anos de trabalho, agora se viaja antes mesmo de completar 40 meses no primeiro emprego!
E quem impulsiona essa maravilha? As redes sociais, claro! Porque o jovem não aguenta ver um influenciador tomando água de coco na Tailândia que já acha que está vivendo errado. Antigamente, a gente trabalhava pra pagar as contas; agora, trabalha-se para postar stories no Instagram. Só que o detalhe é que pra muita gente, essa microaposentadoria não passa de um grande rebranding da boa e velha vagabundagem! “Não estou desempregado, estou só numa fase de descanso estratégico para realinhamento energético e busca do propósito profissional.” Ah, tá bom!
Enquanto isso, os Baby Boomers, aqueles que foram obrigados a se aposentar de verdade porque o INSS finalmente pagou alguma coisa, estão fazendo o caminho inverso! Aposentam-se e voltam a trabalhar porque, surpresa!, a conta de luz subiu, o arroz tá custando um rim e ninguém vive de lembrança de churrasco. O microaposentado gasta tudo viajando e volta quebrado, enquanto o aposentado clássico volta pro mercado porque percebeu que não pode se dar ao luxo de descansar. Resultado: o escritório virou um reality show de gerações! De um lado, o jovem que só quer ser nômade digital. Do outro, o veterano que só queria ficar em casa assistindo jornal e agora tem que aprender a usar Slack, Trello e entender o que diabos significa “moodboard”.
O mercado de trabalho está cada vez mais parecendo uma comédia pastelão: jovens tirando férias prolongadas sem ter começado a carreira, velhos voltando porque não podem bancar a aposentadoria e os gestores tentando entender como colocar todo mundo na mesma reunião sem que vire uma guerra geracional. No fim das contas, o ideal seria um meio-termo: jovens com menos preguiça e velhos com mais tempo para descansar. Mas como equilíbrio não é o forte da humanidade, seguimos assim: uns correndo atrás do tempo que não têm, outros aproveitando o tempo que não deveriam ter e todo mundo torcendo para que, no fim, sobre pelo menos um décimo terceiro pra pagar a ceia de Natal.
*Jornalista/Radialista/Filósofo