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Estamos em uma boa fase

Pedro H. Jasmim*
Publicado em 26/05/2025 às 19:00.

Existe algo invisível que molda tudo que a gente faz, pensa, consome, posta, veste e até torce: o espírito do tempo. Os alemães chamam de zeitgeist. Aqui no Brasil, a gente chama de boa fase. Quer boa notícia? Depois de um longo período, ela voltou.

Sim. O Brasil voltou a vencer. Tamo em uma fase boa. E não falo só de medalha, prêmio ou pódio. Falo de vencer no simbólico. No que nos faz sentir parte de algo maior. No que ativa um modo coletivo que só a gente sabe viver — com festa, multidão e orgulho.

Durante muito tempo, a gente foi isso. Um país que ganhava no futebol, na fórmula 1, brilhava nas pistas, dava show nos palcos e ainda exportava avião.

O símbolo nacional era a vitória. Era Pelé, Senna, Ronaldo, Marta, Xuxa, Embraer, Petrobras. Era como se a gente tivesse nascido com estrela na testa, gingado no sangue e um passaporte carimbado no pódio do orgulho.

E o mais curioso: vencer compensava o resto. Sempre compensou. Compensava a desigualdade, a corrupção, o caos institucional. Nada disso sumia, claro mas era anestesiado pela força da vitória.

Se a seleção tava ganhando, se a novela era sucesso lá fora, se algum brasileiro surgia com um troféu na mão, a gente respirava fundo e pensava: ser brasileiro é isso, muito foda.

Vencer, pra gente, sempre foi anestesia e euforia ao mesmo tempo. Era política de pão e circo, talvez sim mas com caipirinha. Do nosso jeito, podíamos até não ter tudo mas tinhamos clima de Copa do Mundo. 

Mas aí chegou 2012. Foram tempos estranhos. O Brasil parou de ganhar, deixou de brilhar, foi um hiato onde deixamos de nos reconhecer. Foi o 7x1, os vinte centavos, os escândalos, os impeachments, a polarização, a pandemia, crise econômica. 

A autoestima coletiva sofreu o impacto, afinal sempre fomos bons em vencer e não em competir. Não dava para suportar a sensação que o mundo olhava pra gente com pena. Nesse período, mais brasileiros passaram a buscar “como sair do país” no Google do que “como empreender”.

Entre 2014 e 2021, o número de brasileiros morando fora cresceu mais de 35%, de 3,1 milhões para 4,4 milhões em 2022. A confiança na democracia despencou. 

Mas aí, discretamente, algo começou a mudar. Veio Rebeca, com samba no solo e ouro no peito nas Olimpíadas de Paris. Anitta no topo do Spotify global com 7,3 milhões de plays no Spotify Global com Envolver. Nanda Torres com sua indicação ao Oscar 2 milhões de curtidas no perfil do Instagram da premiação. Vieram muitos: Raissa, Vini, Pabllo, Wagner. De repente, clima de Copa. Oscar, Globo de Ouro, Grammy Latino. Madonna em Copacabana. Mais de um milhão de pessoas na praia, vibrando juntas, Lady Gaga com 2,1 milhões, impacto de 600 milhões na economia da cidade do Rio. E ninguém mais pedindo desculpa por ser brasileiro. É o BrazilCore. O mundo e inclusive a moda internacional voltou a olhar pra gente, e dessa vez com brilho nos olhos. 

É uma boa fase. A gente voltou a vencer. E, talvez o mais importante: voltou a se ver. Voltou a se gostar.

Porque aqui, quando um vence, ninguém vence sozinho. A vitória de um ecoa em milhões. A gente comemora na rua, no grupo da família, nas redes, em todos os lugares. E isso muda tudo. Muda o humor, muda o consumo, muda a política, muda o futuro.

Quando o Brasil entra em fase boa, o país inteiro se recalibra, viramos potência. Nós somos potência. 

Viva a nossa boa fase. 
 
*Professor da PUC-Rio e cool hunter

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