Listar os problemas do Brasil não é um desafio complexo, eles estão presentes no nosso dia a dia. Miséria, violência, a invisibilidade, falta de assistência, escassez de educação e de saúde, produzem abismos sociais.
As universidades e os institutos de pesquisa despejam quase que diariamente números expressivos que dão a tônica dos nossos problemas sociais. A solução passa por muitas vias, mas, de longe, a que mais contribui hoje é a ação efetiva das organizações do terceiro setor. Embora parte das entidades enfrentem dificuldades de recursos, o trabalho que todas desempenham vem resultando na melhoria de muitos problemas, além de gerarem emprego e renda.
Para se ter ideia, em 2022 as organizações da sociedade civil (OSC’s) foram responsáveis por 4,27% do PIB nacional e pela oferta de quase 6 milhões de empregos no país. Do total de 879 mil entidades em funcionamento de Norte a Sul e de Leste a Oeste, saúde e educação são os focos de mais de 47 mil organizações, segundo o Mapa das Organizações da Sociedade Civil.
As demais entidades diversificam suas atuações em diferentes áreas: desenvolvimento e defesa de direitos, preservação do meio ambiente e proteção animal, promoção da cultura e da recreação, atenção à assistência social, dentre outros. Quando são contabilizados todos os trabalhos desses setores, fica mais fácil de compreender por que os 4,27% do PIB das organizações, equivale a R$ 423 bilhões.
Esse panorama mostra que o Brasil do caos social e das diferenças de classes também é o Brasil de pessoas imbuídas na missão de diminuir o abismo que hoje separa a qualidade de vida conferida aos ricos e aos pobres. É um dever constitucional do Estado promover ações que reduzam essa desigualdade, o que só ocorre graças ao trabalho das OSC’s.
É lamentável que muitos brasileiros ainda desconheçam o papel das entidades na transformação de suas próprias realidades. O terceiro setor impacta nos bairros, nas comunidades mais pobres, nas cidades, nos estados e nas regiões onde a miséria ainda é a triste referência de realidade. A incapacidade do poder público de dar solução a todas essas discrepâncias sociais, torna o papel das OSC’s ainda mais relevante e necessário.
Chama a atenção que, a esta altura, o desconhecimento e até o desprezo da sociedade em relação às OSC’s, é um espelho para a forma como os governantes muitas vezes tratam as entidades, e o primeiro passo para mudar essa realidade é a promoção de uma cultura de reconhecimento.
O Estado não faz nenhum favor às organizações, pelo contrário, depende de todas elas para alcançar ações que são de sua responsabilidade. Quando o poder público e população entenderem isso, a atuação das organizações será elevada, assim como os resultados que o setor oferece em favor do desenvolvimento social.
*Especialista em terceiro setor, intersetorialidade, Promotor de Justiça aposentado e presidente da Confederação Brasileira de Fundações (Cebraf)