O sofrimento só é inevitável quando ninguém cuida.” A frase de Cicely Saunders, fundadora do movimento dos cuidados paliativos, nos lembra que, mesmo diante de doenças graves e de situações em que a cura já não é possível, ainda existe muito a ser feito. Cuidar não significa apenas oferecer tratamento médico, mas também estar presente… na escuta, no acolhimento, sustentando o outro em sua vulnerabilidade.
Enquanto psicóloga hospitalar que atua em uma equipe de cuidados paliativos, percebo como a psicologia ocupa um lugar essencial; uma vez que a escuta atenta e acolhedora abre espaço para que pacientes e familiares expressem seus medos, angústias e esperanças, muitas vezes silenciados diante da dor. Nesse sentido, o fazer do profissional da psicologia não é sobre oferecer respostas prontas ou extinguir todos os sofrimentos, mas sim sobre a possibilidade de ressignificação. Afinal de contas, ainda que um diagnóstico escancare a finitude da vida, ela ainda pode ser experienciada com dignidade.
Os cuidados paliativos convidam todos os profissionais de saúde a olhar para além da doença e enxergar a pessoa Os cuidados paliativos convidam todos os profissionais de saúde a olhar para além da doença e enxergar a pessoa em sua totalidade — corpo, mente, vínculos e espiritualidade. Para a psicologia, isso significa reconhecer a importância das narrativas de cada indivíduo, ajudando a construir sentidos que fortalecem a autonomia e a identidade, mesmo quando o futuro parece limitado. O cuidado psicológico, portanto, não elimina a dor, mas evita que ela se torne solidão.
Em um mundo que frequentemente teme ou evita falar da morte, os cuidados paliativos nos lembram de algo fundamental: até o último instante, há vida que merece ser respeitada, escutada e cuidada. A escuta acolhedora, marca o trabalho do psicólogo, e já dizia Rubem Alves “: “A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa”.
*Psicóloga