Contra o egoísmo

Wendell Lessa
wendell_lessa@yahoo.com.br
27/01/2022 às 00:57.
Atualizado em 30/01/2022 às 01:06

Geralmente dizemos que o ódio é o oposto do amor. A Bíblia, porém, afirma que o oposto do amor é o egoísmo, porque o amor “não procura os seus interesses” (1 Coríntios 13.5). Além disso, não é o ódio que nos leva a praticar o mal contra o nosso próximo, mas o amor exagerado a nós mesmos, que produz o medo de não sermos reconhecidos como achamos que deveríamos ser e a preocupação exagerada e pecaminosa de sermos retirados do centro das atenções.

O amor é uma entrega sacrificial que fazemos em relação ao próximo, é doar sem nos preocuparmos se vamos receber algo em troca. O exemplo de Jesus Cristo aponta para isso. Um dos textos mais conhecidos e citados da Bíblia nos diz que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

Além disso, o amor não é uma entrega interesseira, não é uma troca ou uma barganha. Aquele que ama não espera o retorno. Sua entrega é voluntária e sua motivação desprendida. Jesus curou os dez leprosos e apenas um voltou para agradecê-lo. A cura dos outros nove não foi motivada pela resposta de que eles dariam em retorno. 

O apóstolo Paulo nos diz que é possível distribuir todos os nossos bens pessoais e até mesmo entregar a nossa própria vida em favor de alguém, mas fazer isso sem amor, direcionando toda a atenção para nós mesmos. Podemos realizar grandes obras; mas, se a motivação primordial não for a abnegação completa e o bem que destinamos, desejamos e produzimos no próximo, isso não será amor, mas egoísmo.

João Calvino afirmou que “nós nunca amaremos nosso próximo com sinceridade, de acordo com a intenção do nosso Senhor, antes que tenhamos corrigido o amor a nós mesmos. As duas afeições são opostas e contraditórias; pois o amor a nós mesmos nos leva a negligenciar e a desprezar outros – produz crueldade, cobiça, violência, engano e todo tipo de defeitos – leva-nos à impaciência e nos mune de desejo de vingança”.

O egoísmo é a origem de todos os demais pecados, porque o egoísta é aquele que cobiça sempre em grau elevado para si aquilo que é do outro. O egoísmo é, portanto, a anulação do outro. A egoísta não aceita que o seu próximo receba os prêmios que são destinados a ele. O egoísta é ressentido. Ele vive com medo pecaminoso de ser superado pelo outro e nunca se realiza nem se satisfaz, porque o seu padrão é sempre o outro. Ele olha para o outro com desprezo e ressentimento. 

O primeiro passo para vencer o egoísmo é saber que nossa satisfação pessoal só pode vir do fato de amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, oferecendo-nos a eles sem restrições. Jesus Cristo resumiu toda a lei de Deus nesses dois mandamentos: o amor a Deus e ao próximo, inclusive o nosso inimigo (Mateus 22.35-40). E fazemos isso ao demonstrarmos desprendimento em dar àquele que necessita o benefício suficiente: “Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe o pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber” (Provérbios 25.21). 

Não é exatamente isso o que Deus faz todos os dias? Ele não dá água, comida, cura, família, bens e tantos outros benefícios mesmo para aqueles que negam sua existência, desobedecem às suas ordens, opõem-se fortemente a ele e vivem deliberadamente como se ele não interferisse em suas vidas? Se essas pessoas fazem isso contra o próprio Deus, que as criou, por que não fariam o mal e seriam ingratas a muitos de nós? Por que devemos pensar que elas devem fazer o que queremos ou nos deem algum tipo de retribuição, se nem ao próprio Deus que as sustenta elas são capazes de retribuir?

Se nós desejamos algum tipo de retribuição, estamos sendo egoístas. É necessário que paremos de requerer para nós o retorno do bem que fazemos aos outros. É preciso que ofereçamos às pessoas aquilo de que elas precisam, sem jamais esperar que nos retornem. Não precisamos ser louvados pelas pessoas. Não precisamos receber atenção das pessoas. Precisamos fazer o que o apóstolo Paulo nos ensinou: “Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça (Romanos 12.20).

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