“Só existe uma vez a cada momento” ... Wim Wenders.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes filmes em exibição nos cinemas.
Eles me levaram para Tóquio, no Japão, onde fui recebido por Koji Yakusho, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
-Pratique a arte do silêncio para entrar em paz consigo.
Não se sinta pressionado a enxergar a felicidade como sinônimo de ter tudo.
-Aquilo que você não tem, não quebra e nem gera boletos.
Koji é o ator que interpreta Hirayama, um faxineiro de banheiros públicos do Japão no filmaço “Dias Perfeitos”.
Numa cena marcante, durante um dia de folga, ele sai para ver o mar e o pôr do sol, quando se aproxima dele um executivo bem vestido, que do nada, lhe confidencia estar com câncer terminal.
O que fazer? O que falar?
Antes de saber o que acontece em seguida, vale a pena conhecer melhor esse maravilhoso limpador de privadas.
Depois de um suposto passado rico e luxuoso, ele aprende a viver uma vida simples e quase monástica.
Econômico com as palavras, quase não fala e só se comunica por gestos, mímicas e sorrisos.
Hirayama é antiquado, analógico, não tem pressa de viver, quase não sofre e não se aborrece.
Não tem redes sociais, não sabe o que é Whatsapp e nem Spotify.
Aprendeu a curar suas dores através do contato com a natureza e com as artes e a cultura ... a viver a vida mais simples e perfeita possível.
Ouve os maiores sucessos musicais em velhas fitas cassete ... tira fotos com uma velha máquina Olympus, que demanda revelação dos filmes.
E adora ler livros, com lições de filosofia, que compra por R$ 1,00 no sebo de uma amiga, situado numa galeria onde ele também costuma almoçar.
Voltando ao diálogo ... diante do silêncio do faxineiro, o executivo doente tenta puxar conversa questionando se ele saberia dizer se duas sombras, quando sobrepostas uma à outra, ficam mais escuras.
Num lindo gesto de humanidade e sem dizer uma só palavra, Hirayama puxa o convidado para um local claro e sugere que eles, em tom de brincadeira, projetem suas sombras numa parede e depois as sobreponham na tentativa de encontrar a resposta na prática.
Sem palavras sobre câncer ou morte, apenas com um gesto simples, o sábio faxineiro proporciona ao estranho momentos de leveza, compaixão e humor.
*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco.